terça-feira, dezembro 26, 2006

Viajar Solo - Córdoba e Sevilha

Permitam-me, caros leitores, uma comparação arrojada:

Viajar é como o sexo!

Podemos fazer sexo sozinhos, é uma necessidade, dá prazer, liberta a tensão e podemos focarmos no nosso exclusivo prazer. No entanto é mais do que certo que partilhá-lo com alguém é muito melhor, mais intenso e interessante. Viajar é igual! Viajar sozinho vai-se ao ritmo que se quer para onde se quer, mas é triste não se poder partilhar o que se vê o que se sente.

E foi com isso em mente com que parti para mais uma aventura em Espanha, qual coiote solitário, qual cowboy do século XXI.

Os últimos Cds de música, carro directo à auto-estrada e aí vai ele rumo ao horizonte desconhecido, que neste caso era Córdoba. O que os Cowboys do oeste americano não tinham ao atravessar as pradarias era filas de trânsito e engarrafamentos. Aí está… 2 horas de fila só para sair de Madrid e fazer os primeiros 70 Kms!

Com a Mega ponte de 2 feriados todos os madrilenos decidiram sair da cidade… lá se foi o romantismo do viajante solitário. Passa-se o tempo a cantar e a estudar o mapa de estradas e decidir caminhos alternativos. Ou a fazer caretas às crianças dos outros.

Cheguei a Córdoba e custou até conseguir arranjar alojamento, devido à quantidade de turistas na cidade. Tinha as expectativas elevadas em relação a Córdoba e foram superadas. Tudo o que me tinham falado não era exagerado. É a cidade com maior influência árabe da Europa e é fácil sentir que se está numa cidade árabe com um cheirinho espanhol.

Já devo ter visto alguns milhares de igrejas na minha vida, mas a Catedral de Córdoba conseguiu-me impressionar! E também impressionou o rei espanhol que ao conquistar a cidade aos mouros ficou encantado com o esplendor da obra e decidiu na destruí-la. Em vez disso mandou construir uma catedral católica, dentro da catedral muçulmana existente… Entra-se na catedral e a dimensão e a mistura de estilos impressiona. Um portal gótico, seguido por um portal estilo árabe, com um crucifixo seguido de uma lua. Espectacular!

Os jardins da catedral com a luz matinal a tocar as laranjeiras e as palmeiras, as sombras nos portais e o brilho nos dourados das inscrições árabes torna o lugar mágico e já não estamos em Espanha. Por falar em laranjeiras é difícil tirar uma foto nas cidades de Andaluzia sem apanhar uma árvore de cítricos. Gostei muito das decorações de natal, nas árvores de fruto fica ainda mais bonito do que em pinheiros.

Claro que a tudo isto junta-se o que de melhor há na Andaluzia, as tapas, os barzitos, o sotaque fantástico arrastado dos locais, a simpatia de todos, uma energia positiva que se transmite, ou serão os meus “olhos de férias” que vêem tudo “rosa”??

Viajando sozinho visita-se tudo mais rápido e ao fim de 24 horas já estava tudo visto. Referencia ainda à vista da cidade da outra margem do rio Guadalquivir (antigamente chama-se rio Betis, daí o nome do clube de futebol de Sevilla) com a famosa ponte romana. E ainda a fantástica comida boa e barata. Recomenda-se o Salmorejo (um género de gaspacho, mas mais consistente, para as noites frias de Inverno).

A decisão de ir a Sevilla foi tomada no momento e o facto de ter lá um contacto facilitou essa decisão. Em vez de continuar na aborrecida auto estrada e depois de vários conselhos de pessoas com quem fui falando em Córdoba, fui pela Carretera 431, que segue junto ao rio, até Sevilla, visitando assim as minas árabes de Medina Azahara e o castelo de Almodôvar del Rio.

As minas são como a versão árabe das ruínas romanas de Conimbriga e o castelo foi interessante apenas por a visita não estar planeada. De qualquer forma é bom mudar um pouco do turismo urbano para algo mais pitoresco fora das grandes cidades.

Depois de instalado em Sevilla, já tarde dei um passeio pelo centro e presenciei a serenata de uma tuna académica. Aquela malta tem uns trajes um bocado abichanados, mas até tocam e cantam bem.

Se há uma cidade que reúna mais dos ícones da cultura espanhola tem de ser Sevilha. As roupas sevilhanas, as touradas, o uso da palavra Olé, o começar a cantar uma boleria com um desconhecido, a energia e a disposição sempre de festa, as imagens de santos nas ruas, bares, tabernas, as cañas e tapas e a lista não termina. Sim Sevilha é Espanha!!

Depois de um pequeno almoço numa esplanada ao sol, a visita aos pontos de interesse, desta vez com companhia, e graças ao conhecimento local, conhecem-se detalhes e locais impossíveis de ver com o melhor livro guia. Gracias Rosana por me enseñares la “otra Sevilla”… Grandioso el “rally tapas” que hicimos! Te debo 12 pasteis de Belém!

Dia 8 de Dezembro, os típicos almoços familiares de feriado, a correria das compras de Natal, mas o que impressiona é o enorme convívio que existe em várias praças. Pessoas a beber cerveja na rua no largo duma igreja, bares e discotecas cheios de fumo e de gente bonita e com a sua melhor roupa. Mas tudo às 5 da tarde!!! Olé!

Como em todo o lugarejo português há um “café central”, também em cada cidade espanhola à uma “plaza de España” (até Lisboa tem uma). Mas a praça de Espanha de Sevilha faz jus ao nome, uma praça circular enorme, com painéis de decorativos de cada cidade espanhola. Querem ver e sentir as diferenças comportamentais, físicas e sotaques diferentes, de espanhóis de toda a parte de Espanha? Então vão à praça de Espanha em Sevilha.

Pequenos grupos de turistas, juntam-se ao painel da sua cidade para tirar a foto típica. A mostrar que somos todos iguais! Todos gostamos de encontrar um pouco da nossa casa, da nossa terra, quando estamos longe.

Sevilha ao longo dos séculos sempre lutando para ser uma das maiores cidades de Espanha, esta praça foi originalmente construída para fazer competições de remo, desporto com grande tradição nesta cidade.

Ficou muito para ver em Sevilla, mas a proximidade com o Algarve e com Portugal, origina a promessa de repetir a visita.

Termino com uma curiosidade. Sevilha em 1992 foi palco da exposição mundial da cultura. Ao contrário do que se passou com a área da antiga EXPO98, o local continua deserto depois da exposição. Não que não tenham havido projectos para urbanizações de luxo e centros comerciais gigantes, a prometer uma “nova Sevilha”. Existem tais projectos, mas os sevilhanos rejeitam que haja um bairro para “ricos” numa cidade em que existem poucas diferenças hierárquicas sociais entre bairros.



Nota adicional aos feriados espanhóis:

Não entendo porquê?, o 1º de Dezembro não foi feriado em Espanha e não se comemora a independência de Portugal. J

Dia 6 de Dezembro é o dia da restauração da monarquia em Espanha. Fim do regime franquista e regresso à monarquia.

Dia 8 de Dezembro, bem, uma das vantagens que vejo em viver numa sociedade católica.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

The most wanted english version

After piles and piles of letters asking for an English version, after so many complains from my best friends all around this Europe, here it is.

“The big official opening post of the east pilgrim in English”

Is just not the same to write in English… Somehow the English versions will be always smaller than the Portuguese ones. Less vocabulary, means less adjectives, less imagination, with your mother tongue is always another story. I will give my best!

Just following all the thousands of readers’ wishes, I will try to keep it update and all the new posts in Portuguese translated to English as soon as possible…

Of course that, in return, I want to receive all your feedback. Whatever they are silly or deep, is in your comments that I earn the motivation to keep writing it in English.

Christmas wishes to all of you…

terça-feira, dezembro 19, 2006

Relatividade de tudo…

Que o mundo seja feito de mudanças tudo bem.

Que sejamos cada vez mais individualistas, egoístas e vingativos, tanto melhor, bora nessa.

Agora quando se começa a duvidar da veracidade ou lealdade das amizades mais antigas, de infância, dessas a que se chama “é do gang” ou “é como família”, dói muito... uma dor diferente de perder um amor… uma dor mais fina, mais fodida.

Algumas amizades temo-las como certas… Eternas… mas não são… e apenas por um motivo… as crianças passam a adultos. No entanto… como algumas amizades são tão antigas, passam a ser como familiares. Por mais chatices que se tenha, por mais profundas que sejam as feridas, acaba-se sempre por voltar a elas, perdoar, esquecer. Por mais diferente que eu seja da minha irmã, por mais que nos zanguemos sempre hei-de amá-la, porque é a minha irmã e isso nunca há-de mudar.

O mesmo se passa com algumas amizades… ao entrar num plano de “família”… acaba-se por perdoar um dia. Por que afinal, amizades dessas são difíceis de substituir e ninguém gosta de estar só…

segunda-feira, dezembro 11, 2006

The Elizabeth Town - Kentuchy

Um argumento bizarro, uma história de amor previsivel. Elizabeth Town foi daqueles filmes típicos que vejo, quando o que queria inicialmente ver está esgotado, e que acabo por adorar!

Senão gostam de uma bela história de amor não o vejam, mas só pela viagem final que o protagonista faz no filme pelo interior dos EUA tendo por companhia as cinzas do seu pai morto. vale pena arriscar vê-lo.

A música é a banda sonora das nossas vidas e eu sempre sonhei com o ter em todos os momentos de cada dia, aquela música certa na altura certa. É essa a ideia do director, por o protagonista a fazer uma viagem a seguir as instruções de um CD que tem a música certa para cada cidade, cada monumento, cada momento da viagem. Toca a pegar no carro, autocarro, mota, cavalo, ou pés e partam à descoberta do desconhecido.

Deixo aqui uma frase tirada do filme (visitem http://www.elizabethtown.com/):

“You will find that it is all very familiar.. the strange and faraway places where you’ve never been. The wild unknown leads you to a place just around the corner. Take a picture when you get there… the road is you.”

The Road
J. Bebe – R. Hammond

Uma semana “viajando” em trabalho


É bom ter um trabalho que permite viajar. É melhor do que ficar sempre no escritório. É verdade! Fugir à rotina e tal… No entanto para além de cansativo é frustrante, por estar em sítios interessantes e não ter tempo nem para lhes sentir “um cheirinho”. Conforme as horas vão passando cresce a esperança de conseguir acabar o trabalho antes de anoitecer, olhar lá fora e ver palmeiras e o sol de Inverno das Canárias e não puder sair do armazém.

Foi assim esta semana. Por motivos profissionais tive de viajar a Barcelona e a Tenerife esta semana acompanhado por 2 colegas da Compal Portugal.

Barcelona é outra Espanha… Madrid é uma cidade incrível com um ritmo alucinante 24horas por dia! As tapas, a música, a forma positiva de enfrentar a vida, em resumo a essência espanhola. No entanto não é bonita. É cidade para trabalhar e para curtir noitadas 7 dias por semana até cair para o lado, mas há “un monton” de cidades mais bonitas com muito mais para ver e visitar.

Um exemplo disso é Barcelona. É uma cidade linda… Arte e monumentos existem em cada esquina, em cada casa, em cada parede… a cidade surpreende. Tem montanha, tem água, tem muita cor. Madrid pode ter muitos emigrantes e muitas nações a viverem juntas, mas em Madrid tem de se falar e ser espanhol e gostar do que eles gostam. Barcelona é outra história multicultural sim, mas muito mais tolerante para estrangeiros, muito mais aberta a falar outras línguas; e isso nota-se nos bares, nota-se nas ruas, nota-se nos cinemas com legendas em espanhol ou catalão em vez de dobrados.

O tema quente da independência da Catalunha, do facto da juventude só aprender catalão e das aulas nas universidades serem em catalão e do facto de haver barreiras a outros espanhóis de irem trabalhar para Barcelona senão falarem Catalão, deixo para outra altura. Demasiado polémico para este Blog. Melhor voltar às viagens…

A primeira vez em Barcelona foi no meu primeiro ano de ISCTE e foi uma viagem muito marcante nem que seja apenas pelo facto de ter conhecido 2 malucos que pertencem hoje ao meu pequeno núcleo de melhores amigos. O tempo não esteve famoso e tivemos pouco tempo para passear pela cidade.

Desta vez não foi diferente. Depois do trabalho só deu tempo para o passeio nas Ramblas e no bairro gótico e uma Paella daquelas que a semelhança com o nosso “arroz à Valenciana”, é pura coincidência. A verdadeira Paella é de Valência, ingredientes idênticos, mas sabor e cor não tem nada a ver.

Mais um dia mais uma viagem e como farta toda a cerimónia de apanhar um avião. Saímos de Barcelona onde as tabletas no aeroporto vêm nos idiomas: Catalão, castelhano e inglês. Chegamos a Tenerife e temos: Espanhol, alemão e inglês.

Alemães por toda a parte e avenidas com hotéis, praias, lojas de “recuerdos” e quadros de giz a anunciar jogos de futebol da Budesliga e Premiership, e é fácil pensar:

“Cheguei ao Algarve!”

A grande diferença são as palmeiras e o facto de ser Novembro e estarem 26ºC e uma humidade que mantém o suor pegado ao corpo. E viva as Canárias!

No 2º dia de trabalho deu para terminar mais cedo e conhecer o norte da ilha. O “El Teide” omnipresente e sendo o ponto mais elevado de España merece respeito. Como a maioria dos ventos vêm do norte as nuvens ficam “presas” no alto da montanha o que faz com que o norte da ilha seja de um verde exuberante, enquanto que o sul é seco e árido qual deserto do Sahara.

Desta vez só deu para ver o norte. O porto de Santa Cruz é uma cidade alemã e inglesa com as suas praias de areia negra e água quente, mas gostei mais da capital da ilha, Santa Cruz de Tenerife. Sem praia torna-se menos turística, logo mais monumentos, menos hotéis, mais edifícios antigos, em resumo: mais da cultura local. Os canários são muito simpáticos e o sotaque local é muito mais melódico e fácil de entender.

Fica a vontade de voltar, mas na próxima com mais tempo para ver a noite e conhecer o sul com as suas praias de areia branca e discotecas cheias.

Termino com um detalhe delicioso… em Madrid e Tenerife fala-se Espanhol, mas perguntem a um catalão e ele diz que em Espanha se fala Castelhano. È um país curioso…

segunda-feira, novembro 20, 2006

Segovia - Castilla y León

O que tem chovido nas últimas semanas… Como me disse um professor de energia, que trabalha na EDP: “A chuva são euros que caem do céu”… Faz falta e estamos na época dela, mas torna difícil viajar, visitar, fazer alguma coisa fora de casa durante os fins de semana.

Num Domingo de Outubro houve uma pausa nas chuvadas que caíram em Madrid e lá fui para Segóvia, tentar conhecer mais um pouco dos arredores da minha nova morada.

A poucos quilómetros a viagem faz-se em meia hora e realmente merece a visita. Separada de Madrid pela serra Guadarrama, Segóvia mostra já bastantes diferenças arquitectónicas e culturas pois já pertence à província Castilla León. O centro histórico é bastante pitoresco com as suas varandas em metal, os mosaicos em argila e com o enorme aqueduto a coroar a cidade com um estilo próprio.

Um passeio pelo centro, fotografar os monumentos mais importantes e subir ao castelo para tirar aquela foto panorâmica. Já está! Chega a hora de almoço e como que em perseguição desde Madrid, a chuva volta a atacar e com força. (É bem visivel na foto a tormenta a vir das montanhas).

Bom pelo menos deu para provar o famoso leitão (cochinillo), prato típico da cidade. E pronto! Mais um X no mapa de Espanha...

sexta-feira, outubro 06, 2006

Toledo la Capital Antigua

Toledo… a antiga capital de España… Bonita? Típica? Tudo isso e muito mais.

Uma cor domina as ruas, o branco amarelado dos tijolos das casas. Ao contrário de Madrid em que os tijolos laranja estão por toda a parte, o Sol reflecte-se nas paredes amareladas das casas e monumentos de Toledo dando um aspecto dourado, esplêndido a tudo.

O rei Felipe II transferiu a capital de Espanha de Toledo para Madrid durante os 60 anos de ocupação de Portugal, a época de ouro de Espanha. As grandes construções mudaram-se para a actual capital, mas Toledo com uma população pequena, tem monumentos de uma dimensão e esplendor dignas de uma grande cidade. Alcazár, Museu de Santa Cruz, Casa/Museu del Greco e Taller del Moro, mais detalhes em http://www.guiatoledo.com

A localização de Toledo não podia ser mais adequada. Assim como Santarém, Toledo foi construída à beira do rio Tejo numa zona elevada do terreno. Realmente viajar no centro de Espanha é como atravessar o Alentejo, a vista é aborrecida! Do alto da catedral em Toledo é bem visível a desertificação causada pelo calor excessivo. Vê-se o rio "Tajo" contornando a cidade como que acariciando-a e lá continua pequenino, mas decidido, serpenteando em direcção a Portugal. Nas margens do rio a natureza vence com ajuda da água e abundam as árvores, mas o resto tudo, tudo plano, completamente seco e desértico.

Conhecendo eu bem o mercado e os hábitos de consumos dos espanhóis no que toca a sumos e refrigerantes, não pude deixar de reparar num detalhe “delicioso”. É sabido que Espanha é o pais da Europa com o maior consumo de Coca Cola per capita e que nos bares e discotecas tudo se junta com Coca Cola, desde vinho tinto a Juanito Camiñante (Johny Walker). Até aqui nada de especial. No entanto ter uma máquina de venda de bebidas dentro da maior catedral de Toledo?? Isso já me ultrapassa! Lá estava, em plena catedral, para que os devotos que estejam em meditação e a rezar possam matar a sede sem ter de sair para as ruas quentes… deve ser fácil trabalhar na Coca Cola España…

Continuo a preferir Granada e Salamanca, mas Toledo sem dúvida me impressionou!

sexta-feira, setembro 29, 2006

Jardim à beira mar plantado...

Hoje não escrevo sobre viagens. O texto em baixo foi escrito por uma amiga minha que descreve exactamente o que eu senti e ainda sinto pela Polónia. Um amor sem razão, uma ilusão... Faço dos sentimentos dela, meus e assim foi o que senti quando voltei da Polónia e a dificuldade em explicar as saudades de um país que não o meu.

Ela está em Portugal desde Março do ano passado, é romena e trabalha numa empresa de tradução em Lisboa. Vai-se embora daqui a dias para o Canadá.

Fica aqui o registo de que o nosso país é fantástico e por mim transmitia este texto nos telejornais de hoje para animar os meus compatriotas, porque muitos não têm ideia da sorte que têm, do maravilhoso que é ser português.

Obrigado Anca:

# "Ó Filipe, este dia foi tão intenso, e ainda vai ser, e se não partilhar agora o que eu sinto com alguém, vou explodir.

Hoje, em Lisboa, está um dia de primavera. E fez me lembrar os dias do mês do Abril, quando também estava constipada como agora. Tinha aquele cheiro típico no nariz, aquela sensação de arder, por dentro e por fora. O sol tinha a mesma intensidade, a luz, as cores, o ventinho quente. Como a cenas de filme lembro-me deste passado recente, e sinto o que sentia há alguns meses atrás, e muito mais do que isso. E tão esquisito, parece surreal. Por vezes é como se nada tivesse sido, como se fosse Março. Mas no enquanto é tão diferente, porque já não me sinto estrangeira, sinto como se isto tudo, a cidade as parcas, a língua também fossem minhas. E é agora, neste preciso dia que eu percebo, mais do que nunca, o que eu ganhei com e em Portugal.

Perguntei-me mil vezes porque eu amo tanto Portugal, o que tem este país de especial. Se calhar não há nada a mais do que o calor e o sol do que outros. Cheguei a conclusão que deve ser como o fenómeno de se apaixonar por uma pessoa: Tem algo que nós gostamos, muitas falhas e defeitos, mas não ligamos a eles, e deixamo-nos impressionados porque queremos, porque precisamos. Podia ter sido qualquer outra pessoa. Mas é esta pessoa que lá esta, talvez simplesmente por acaso, e que nos dá aquilo que nós precisamos, nos oferece o seu calor, e torna-se nosso cúmplice. Podia ter sido qualquer país do sul, Itália, Espanha, Grécia … E como todos sabemos: o amor não tem razão nem limites.

Sim senhora, eu AMO este pais, pode não ter nada de especial, mas isto não interessa. Tenho mil e uma razoes, mas não e preciso se justificar. Amar é legítimo!

Não poder "namorar" agora custa, mas isto não é assim tão grave. O que dói mesmo, é não poder partilhar o que sinto com ninguém. Ninguém percebe este meu amor, ninguém quer saber. Os de fora pensam: “mais uma que descobriu o sol e torna-se maluca", os de dentro, os portugueses, não tem comparação, não percebem…" #

terça-feira, setembro 26, 2006

Milano - A cidade "wanna be"

“Texto escrito no avião de regresso a Madrid”

Neste último fim de semana fui a Milão. Vivendo em Madrid, os voos “low cost” são realmente low, mas porquê Milão? Podia ter ido para fazer compras, mas não, o Nzeke faz anos e decidiu comemorar em Milão. Que bem, não??

Já agora dou aqui os parabéns aos vários amigos que fizeram anos no dia 24 de Setembro, Nzeke, Iveta, David e Andreas. PARABÉNS!

Saí do trabalho na sexta e voei com a Vueling (recomendo). Chegado ao país da bota, 50 minutos de autocarro até à estação central e um grande abraço ao André e ao Nzeke; quem sabe se não foi o último… 2 dedos de conversa e seguimos directos para a discoteca KARMA, guiados pelo nosso anfitrião nativo Mateo.

Realmente Milão não é bonita… À excepção de algumas praças principais, é uma cidade cinzenta, suja, mas com mais lojas de roupa por metro quadrado que qualquer outra. (Curioso que a estação de metro onde estávamos hospedados chamava-se Zara). Sim! É uma cidade para compras, mas os locais, os milaneses, compensam a falta de graça da cidade. São realmente muito “fashion”, estilo, roupa, pinta, basófia, têm-na toda. Por todo o lado gente bonita.

E de volta à discoteca KARMA, lá estavam os óculos escuros D&G, os penteados da moda, as camisas justas. Estes italianos realmente “atacam” as meninas com uma “vivacidade” muito própria. No entanto com tanta moda, pedem um pouco a imagem tradicional de masculinidade e se noutros países se identificam bem os homossexuais, esqueçam no norte de Itália. São os metro man!

Realmente deu para descansar. Passeios pela cidade em busca dos pontos de interesse, compras, comida italiana e muito bom vinho.

Uma modalidade que desconhecia era o “Aperitivi”. Antes da hora de jantar, um grande número de restaurantes serve um buffet grátis. Quer dizer… mais ou menos grátis. As bebidas pagam-se e seja água ou vodka, custam sempre 6euros, e claro, pelo menos o consumo de uma é obrigatório. Não deixa de ser barato. A qualidade do restaurante dita a qualidade do buffet, mas são pizas, massas, saladas, queijos, frutas, doces, muito similar ao self service de um hotel.

Recomendo a Piazza do Duomo, Castelo Sforzesco, Convento di Santa Maria delle Grazie onde está o original de Leonardo da Vinci, “A última Ceia”. Desde o sucesso do livro e depois do filme “Código da Vinci”, para visitar a capela é necessário realizar reserva com algumas semanas de antecedência. Indispensável um passeio pelas ruas das lojas da “moda”, Armani, Dolce & Gabbana, Ferré, Valentino, Versace, na Via Torino e na Via Monte Napoleone. O local para ver e ser visto.

Para um inicio de noite agradável, um cocktail numa esplanada à beira de um canal no bairro “Navilgi”, vendo quem passa e bebericando um Rossini (champanhe com xarope de Morango). O cenário perfeito se ignorarem os mosquitos.

terça-feira, setembro 05, 2006

Gaivotas em terra, tempestade no mar


O calor Madrilleno aperta, o ar está seco, o colarinho da camisa permanentemente suado… Água… fresco… vai uma caña?

Felizmente existem fins de semana e felizmente existem fins de semanas em destinos frescos para trocar o “bafo seco” madrilleno por algo mais fresco, doce e libertador… a brisa húmida do Atlântico.

Estive nas Berlengas! Um destino aborrecido para quem não dispensa discotecas e praias de areia branca, mas foi perfeito para mim.

Porquê?

- Presença dos meus maiores amigos,
- Ver água o tempo todo,
- O sabor a aventura que se respira nas ilhas,
- A beleza crua da natureza,
- Ausência de rede nos telemóveis e distância dos computadores,
- E por último o clima nublado e o vento fresco que se fazia sentir.

No entanto admito que é difícil para muitas pessoas dormirem nas Berlengas. A ausência de energia e de água canalizada afasta logo a possibilidade de haver turismo em massa. Esquecendo as comodidades a que estamos habituados passa-se um fim de semana fantástico. A ausência quase total de vegetação e as inúmeras grutas, dá um aspecto austero à ilha, no entanto as águas límpidas, os mergulhos, os peixes, os cheiros do mar, o forte de S. João Baptista e a sua fantástica localização e os passeios em barcos rudimentares tornam os dias fantásticos com um sabor a aventuras de piratas.

Ah! Quase esquecia… nas colinas, nas casas, na água, no ar, em todo o lado, gaivotas. No fim de contas são elas as donas das ilhas! Foram elas que as descobriram primeiro e são elas que as habituam todo o ano, nós, humanos, teremos de nos contentar com apenas 4 meses, porque sendo parque natural e local de nidificação destes piratas dos oceanos, após Setembro fica vedado o acesso aos turistas.

Suportando a viagem de 45 minutos em mar alto sem enjoar o resto é canja! E entre copos, jogos de cartas, jogos lógicos e matemáticos, matraquilhos, ténis de mesa, mergulhos e muito boa disposição passámos um fim de semana espectacular que jamais esquecerei.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Fronteiras e Religiões

Nós, cidadãos da união europeia, já há algumas dezenas de anos, temos a facilidade em esquecer como era difícil atravessar fronteiras para outros países. Este verão voltámos a recordar isso. Búlgaros e romenos dão-se bastante mal, e turcos… bem nem romenos nem búlgaros, nem ninguém nos arredores, gostam deles. Isso tornou bastante aventureiro tentar atravessar as fronteiras. Quando planeámos a viagem, era claro que de um país para outro simplesmente apanhávamos um comboio ou um autocarro e pronto, já está.

Nem pensar…

Da cidade romena Constanza um autocarro até outra cidade perto da fronteira da Bulgária. Dessa cidade um mini bus até à fronteira. Na fronteira atravessamos a pé e passamos todos os controles e mais alguns e do lado búlgaro negociamos com um taxista o preço para uma cidade a 20km da fronteira onde poderíamos apanhar um outro autocarro para o nosso destino final. Tudo feito num record de um dia. Lá se foi o plano inicial de o fazer em 4 horas.

No entanto são esses contratempos que juntam a palavra “inesquecível” à palavra “viagem”.

A tendência para quem não conhece outros países é dizer que são todos iguais. Antes de visitar a Lituânia, Letónia e Estónia, colocava estes países todos no mesmo saco. Realmente não se pode fazer comparações, incrível como estes 3 países pequenos podem ser tão diferentes em costumes, tradições, religiões, moeda, moda, etc, etc, etc.

Agora também não tenhamos ilusões, para um senhor que vende pipocas na Letónia, Espanha e Portugal são iguaizinhos.

Este verão fomos para a Roménia, Bulgária e Turquia com a certeza de encontrar diferenças, no entanto claro que fomos surpreendidos. Devido às diversas invasões turcas durante séculos, tanto a Roménia como a Bulgária, têm muitas influências, na música por exemplo é mesmo óbvia.

Não quero dar muito a minha opinião acerca das religiões dos outros, no entanto é este factor que mais distancia os países e que mais contrastes cria. Temos uma Roménia pobre com uma maioria absoluta de ortodoxos, ciganos e turcos.

Depois uma Bulgária, que sempre se apoiou na Rússia depois da II grande guerra, para manter a sua independência e pôr os turcos à distância. Então temos um país onde o governo apoia o ateísmo, onde a ausência de religião é apoiada na força do “estado”.

Finalmente temos a Turquia, onde tivemos o nosso primeiro contacto, sempre chocante, com o islamismo, bom e isso sim provoca diferenças. A forma como as mulheres são tratadas e o rigor religioso são impressionantes, mas o que gostei mais foi o facto de 5 vezes ao dia pelos altifalantes de toda a cidade se transmitir rezas em árabe. Das 4 noites que estivemos em Istambul, em duas delas acordei com essa transmissão.

Sim foram umas férias ricas de contrastes! Num dia estamos numa discoteca búlgara ao pé da praia onde se dança em roupa interior, ou sem ela, dentro de uma piscina; noutro dia estamos a deitarmo-nos às 23h depois de ouvir uma reza em árabe e beber um chá turco.

E para quê entrar em mais pormenores… Deixo aqui 2 fotos que exemplificam bem as diferenças causadas pela religião. Foram ambas as fotos tiradas a anúncios em paragens de autocarro:

Um anúncio a um protector solar na Turquia, onde a rapariga nem biquini tem vestido e reparem no detalhe do cabelo a tapar ao máximo o corpo.


Um anúncio a um votka (tipo eristoff ice) na Bulgária. Sem comentários…

Curiosidades e contrastes Culturais

O que é certo para uns é errado para outros. O que é “normal”?? Uma parte boa de viajar é que se vê comportamentos diferentes que mudam a nossa opinião e nos fazem questionar se o que fazemos e se o que achamos “normal”, realmente o é!

Uma tourada normal e tradicional em España é inaceitável na Índia já que são animais sagrados. Achamos terrível comer cão ou baratas, mas no entanto comemos caracóis e sandes de coiratos.
Deixo aqui alguns contrastes culturais para reforçar o ponto de vista que realmente somos todos tão diferentes o que torna a palavra “normal” algo ridículo!

Na Polónia: A televisão, os filmes são dobrados para a língua local (até aqui tudo normal), mas....por uma única voz...:) então temos programas dobrados em polaco em que existe uma única voz a traduzir todas as vozes (femininas e masculinas), simplesmente hilariantes:).

Na Espanha: existe um conceito mundialmente famoso da ‘Siesta’ (até aqui tudo quase normal), mas o conceito de ‘Jornadas intensivas’ é realmente uma novidade, onde os espanhóis trabalham das 8 da matina até às 3 da tarde sem intervalo para almoço, indo para casa de seguida(bela vida, gostava de ser espanhol no Verão) :)

Na Suécia: é-se considerado um alcoólico se beber um copo de vinho á hora de almoço, e ninguém bebe vinho a não ser de noite. No entanto, se beberes meia garrafa de vodka antes de sair à noite e umas cervejas e vomitares no fim da noite (como os suecos fazem), já não és considerado bêbedo com problemas de álcool:).

Na Holanda: és considerado estranho e diferente se comeres uma sandes de queijo e um copo de leite ao pequeno-almoço, mas és considerado completamente normal se comeres uma sandes de morangos e manteiga e beberes um iogurte liquido....ao almoço:)

Na Rússia: Se às 6 da tarde convidares alguém para tomar um café, ficam a olhar para ti com um ar de E.T. e levam-te ao bar mais próximo para beber uns shot’s de vodka no horário pós-laboral.

Na china: Se achas que o conceito de comida fresca é um mercado do peixe perto do mar, ficarás surpreendido se num restaurante vires uma galinha dentro de uma jaula entrar pelo restaurante a dentro em direcção á cozinha e 15 minutos depois veres um 'chop soi' de galinha na mesa do lado.

Na republica checa: Se pensas que o serviço de atendimento em Portugal é mau, ficarias surpreendido se em Praga pedisses uma pizza de tomate à empregada (para além da pizza vir com ketchup) a empregada ainda te respondia que só tem duas mãos, que tem mais que fazer e tudo com um ar de poucos amigos. No final ainda fica surpreendida e toda chateada porque não lhe deste gorjeta.

Inglaterra: Um país que tem nos supermercados uma enorme quantidade de produtos light e ‘healthy’ por metro quadrado, mais do que qualquer outro país do mundo, e depois o prato nacional é peixe com batatas fritas e maionese.

Finlândia: Um pais dito de primeiro mundo, onde a economia e tecnologia são considerados de ponta e....onde os homens se batalham com as mulheres para sair da porta do metro ou do elevador, empurrando-as se for necessário.

Bélgica: Um país com longa tradição de chocolate, mas se perguntares a um local o que é típico belga, dizem-te num piscar de olhos que é um pacote de batata frita gigante com 2 tipos de maionese por cima.

Roménia: Se acham que a moda dos fatos de banho em Portugal é high class, deviam de ver o típico romeno a passear por uma típica praia na Roménia e usar o fato de banho até ao umbigo....muito sensual devo dizer:)

Bulgária: O Verão no Algarve é realmente muito turístico, mas deviam de ver a costa marítima da Bulgária com cidades nada turísticas com o nome de ‘golden sands’e ‘sunny beach’, nomes totalmente búlgaros (tento em conta que a Bulgária tem uma língua e alfabeto parecido ao russo-cyrill).



Noruega: Se acham que o Alentejo é um lugar pacato e sossegado, deviam de passar uma tarde de inverno em Oslo, onde ás 3 da tarde é de noite é as 6 da tarde está tudo fechado.
Letónia: Se consideras normal usar t-shirt e fato banho na praia, ficarias surpreendido então de ver tantos casacos por metro quadrado numa praia do mar Báltico:)

Eslováquia: Se beber vinho do porto em Portugal é um bom digestivo, então ficarias surpreendido se na Eslováquia te dessem um copo de fernet (vodka local com sabor a limão) depois de jantar para ajudar á digestão.

Na Lituania: é considerado estranho comer dois refeicoes quentes durante o dia(de prato e talheres, normalmente só comem uma sandes) como nós portugueses fazemos alegando que nao é muito digesto e saudavel, mas é absolutamente normal comer salsichas ao pequeno almoco com pickles. (Isto tambem é valido por muitos paieses de leste nos quais andámos perdidos).

E se entretanto se lembrarem de alguma experiencia,podem partilham aqui mesmo, num blog perto de si...:)

'Peregrino do leste - o blog - mais perto do que é importante'

quinta-feira, agosto 10, 2006

Viagens atribuladas

Quem não se lembra de fazer aquela viagem de comboio, pouco confortável, ou mesmo sem dormir, se pensarem bem, qual foi a vossa pior viagem?

Vem-me à cabeça vários episódios, uma viagem de Split (Croácia) a Cracóvia (Polónia) que demorou umas 30 horas, num desses Verões onde havia um concerto em Budapeste e todos os italianos se lembraram de invadir Budapeste e consequentemente os comboios também....e claro o nosso não foi excepção. Saímos ás 4 da tarde de Split, paragem ás tantas da manha em Zagreb, onde ficamos na estação (como tantas outras vezes) á espera do primeiro comboio para Budapeste (1 dia). Foram horas de desespero nesse comboio, apinhado de gente até ao tecto, era impossível andar nos corredores, como ainda não havia união europeia, em todas as fronteiras demoramos uma eternidade até que finalmente ás 11 da noite chegámos a Budapeste. (dia 2)Depois passamos a noite no comboio de Budapeste para Cracóvia. E assim chegamos a Cracóvia onde tivemos uma recepção que dava outra história ainda maior que esta.

Outra viagem que me lembro que foi particularmente má, foi uma viagem aquando dos meus estudos em Macau, na qual dei um 'pulo' ao Laos. Foi provavelmente das viagens mais longas da minha vida. Demorou nem mais nem menos 36 horas de autocarro com uma paragem de 1 hora de intervalo para mudar de autocarro e comer, e segundo os locais ainda fomos sortudos, que não tenha demorado mais tempo. Por isso quase me senti com 'sorte' de ter 'só' demorado 36 horas.

Tudo começa num hostel em Hanoi (capital do vietnam) onde tentámos negociar o preço do autocarro e ainda conseguimos ser enganados por 3 dólares:). Depois começou a saga de 25 horas até viantiem (capital do Laos, parece Vietname mas não tem nada a ver é pura coincidência de nomes). A viagem em si, foi difícil 25 horas num autocarro, onde as minhas pernas não cabiam no banco do autocarro local, porque o vietnamita médio tem 1.5 metros e pesa 60kg.....por isso foi complicado:).

Entretanto em viantiem apanhei um autocarro para Luang Prabang(uma cidade um pouquinho mais a norte do laos) de mais 11 horas durante a noite onde iríamos passar uma zona controlada por um grupo de guerrilha contra o governo no Laos. Dai que iam uns rapazitos simpáticos com ar amistosos em que traziam uma metralhadora cada um em punho. Por isso quando vi esse cenário não fiquei lá muito seguro de que estávamos num lugar simples, mas os locais sempre diziam quando eu apontava para as armas 'no problem, very safe very safe', obviamente não me tranquilizou muito, mas lá fomos.

Estas últimas 11 horas foram mais difíceis ainda que as primeiras 25 horas, porque o autocarro ia cheio e tal como no outro autocarro tinha que ir com as pernas atravessadas no corredor quase a bater no banco do vizinho do lado. Mas o mais bizarro nem sequer foi o pessoal da metralhadora, foi que tínhamos um motor no corredor do autocarro, mas 8 horas depois percebi porque que tínhamos um motor atravessado no corredor... aparentemente havia um autocarro empenado no caminho. Mas o mais caricato é que esse autocarro teve que ficar empenado (obviamente), teve que esperar que um autocarro passa-se por aquelas bandas para lhe entregar o motor....para levar á cidade, para arranjar e depois voltar....pois não me perguntem quando tempo o autocarro ficou ali parado, mas deixa-me vos dizer que por aquelas paragens não passam lá muitos autocarros. Assim que chegamos ao destino final, eu já não sentia nada e já sonhava com uma ida ao Ikea e passar o dia todo sentado em sofás e a pular em almofadas de tão confortável que foi a viagem:).

No entanto a viagem de volta do Laos para Portugal também nao foi mais simples e dava outra história cumprida, onde basicamente parti o pé algures na mountanha no Laos e em que demorei 8 dias das mountanhas do Laos até ao Hospital Sao Francisco Xavier em Lisboa:).

De qualquer das formas de muitas viagens que fiz, inclusive com o Filipe, penso que estas ultimas férias tivemos também episódios bastante engraçadas que vale a pena recordar, como uma viagens de comboio de Brasov a Constanca na Roménia onde íamos num compartimento sozinhos, num comboio apinhado de gente....razão principal apontada: cabine perto da casa de banho, o resto penso que podem adivinhar. Eu como estava constipado, o lugar não me afectou e o Filipe como é um homem de barba rija passou-lhe ao lado:).

No entanto o trajecto mais caricato da viagem neste Verão, foi a ida e a vinda para Istambul.
A ida para Istambul, começou algures na Bulgária numa terra chamada Burgas. Compramos os bilhetes para o autocarro das 23:00. Às 2 da manhã o autocarro não tinha vindo, até aqui tudo quase normal....quando o autocarro chegou entramos no autocarro meio ensonados e percebemos que não havia lugar para sentar...até aqui nada nos parecia normal... por isso para remediar a situação deram-nos uns banquinhos de plásticos e lá fomos nós 8 horas até Istambul no corredor do autocarro onde inseriram um novo conceito na industria rodoviária de 'overbooking':) (estes Turcos estão sempre a inovar).

Importante referir que tudo isto sem que ninguém da empresa rodoviária soubesse falar inglês. Engraçado também que a policia de ambos os países da fronteira ao verificar os passaportes passava literalmente por cima das pessoas deitadas ou sentadas no corredor, sem nada comentar e apenas sorrindo.

Bom tal como a ida a vinda não podia ser diferente. Claro que mudámos de empresa de autocarros e viemos num autocarro tipo nave espacial, todo novo e moderno, mas claro...tivemos uns contra tempos na entrada na Bulgária.

Uma vez que a Bulgária irá entrar na União europeia no próximo ano, o controlo na fronteira é bastante mais apartado, dai que ficamos, nada mais nada menos que 5 horas na fronteira. E claro uma vez mais o meu passaporte tinha que fazer das suas, dai que todos os passaporte foram postos no mesmo molho (incluindo o dos Turcos...atenção) e o meu e o do Filipe foram postos aparte e posteriormente o meu ficou sozinho...após o policia quase me ter destruído o passaporte com tanto mexe e remexe. Lá me perguntou se tinha outra identificação porque havia qualquer coisa de errado (que ele próprio não sabia o que era) e o pior de tudo é que o passaporte do Filipe era realmente diferente do meu.

Na capa do passaporte inicial os novos passaporte as letras estão escritas em dourado e nos antigos (como o passaporte do Filipe) estavam escritos em prateado....por isso apelo ás autoridades portuguêsas, para por favor façam passaportes piores e mais fáceis de copiar e pode ser que tenhamos casos de mais portugueses presos ou quase presos por suspeitas de passaporte roubados ou falsos. Nestas pequenas coisas mostramos ao mundo a nação que somos e o rigor com o detalhe que temos, ainda mais em algo tão pouco importante como o passaporte.


Mas enfim após esta aventura chegamos são e salvos ao nosso destino:).

Já se lembraram entretanto, de alguma aventura nos transportes realmente má?:)

terça-feira, junho 20, 2006

Das montanhas Tatra para a cidade de Madrid

Durante o meu erasmus em Kraków tive de fazer uma apresentação sobre Portugal com um público de cerca de 100 erasmus bêbados num acampamento nas montanhas Tatra. Antes de mim, a apresentação de Espanha incluiu uma tourada com um touro polaco e a apresentação francesa incluiu muita música, dança e 2 homens a beijarem-se. Sendo o único português era complicado elaborar uma apresentação complicada como os meus colegas com grupos de 20 e mais pessoas. A responsabilidade era enorme, mas correu bastante bem! Umas piadas iniciais, seguidas de um marketing agressivo sobre as razões de visitar Portugal e como me pediram para falar a minha língua nativa que muitos desconheciam, recitei toda a letra do nosso hino, não cantado, mas como lendo um excerto dos Lusíadas.

No início dessa noite assisti a uma discussão entre um polaco, alemão e francês sobre quem é o centro da Europa. Todos se consideram o centro da Europa. Os meus estudos em Kraków chamavam-se European studies in Central Europe. Tudo muito subjectivo…

Uma das minhas piadas iniciais na exposição sobre Portugal foi mais ou menos assim:

“Everybody wants to be in the centre! France, Poland, Germany, discuss about it. At least we Portuguese are sure about one thing! We are in the West! No doubt about it! So tonight I advice you: GO WEST! Why?!? Because we have 300 days of sun in a year…”

E continuou o discurso de agente turístico que frequentemente uso. Fiquei em segundo lugar e ganhei uma garrafa de wótka! Portugal soma e segue!

Isto para concluir que a alcunha que o meu pai me deu, Peregrino do Leste, não podia ser mais apropriada! A não ser que me desloque até ao cabo da Roca, para onde quer que viaje na Europa estou a ir para Este.

E foi assim que recentemente me apresentaram uma oferta para trabalhar fora do nosso país. O apelo lá de fora desde o final do curso que o sentia, logo disse sim sem hesitar. A partir de Julho vou trabalhar para “leste”, para Madrid. No entanto vou continuar a trabalhar para uma empresa portuguesa e a dar a minha contribuição a esta terra de Sol no cantinho da Europa.

sexta-feira, junho 16, 2006

Emigrantes Polacos

Tenho acompanhado o êxodo massivo dos emigrantes polacos após a entrada na EU. Como maior parte dos países lhes fechou a porta do mercado de trabalho, só a Irlanda e a Inglaterra têm beneficiado desta mão de obra barata e altamente qualificada. E já vamos com 800.000 na Irlanda e 1.000.000 na Inglaterra. Ao contrário de nós, os emigrantes qualificados ficam e os menos são mandados embora após o trabalho temporário. Num estudo sobre emigração polaca no site da EU, li a opinião de uma emigrante polaca de como se deve fazer para sair dos trabalhinhos de serviço às mesas para posições mais altas nas empresas inglesas e irlandesas.

Reparem na determinação destes eslavos:

“The way it works is like this. You start off in a bar or restaurant. You get to know the costumers and find out what they do. When you find one who has the kind of work that you like and can do, you make friends with them and try to get introduced to their boss. Then you persuade him to try you out for a week, even unpaid. And because you are polish and have good skills and work hard, you will get a job. Maybe even your new friend’s job

Hehehe! Isc, isc polska!

quarta-feira, junho 14, 2006

Momento Zen - Mont Saint Michel

Entre a Normandia e a Bretanha existe um lugar encantado. Um castelo mágico que nos fala de lendas, traições, histórias de amor e fé.

Mont St. Michel!

Tinha conhecimento das grandes marés vivas do norte de França, mas fiquei impressionado com a rapidez com que a água sobe, incrível! No meio de uma planície a perder de vista foi construída uma fortaleza que fica rodeada por água por todos os lados durante a maré cheia.

A visita acabou por não ser muito agradável, porque fui no 1º de Maio e estava a “deitar por fora” de turistas. Um oceano de turistas atafulhados pelas ruas, ruelas e becos da aldeola em redor da principal catedral. Impossível o tráfego…

Fica o registo da grandeza do local, o misticismo, que embora enevoado pelas ordas de turistas, me deliciou com um sentimento de isolamento e paz com água a perder de vista em todas as direcções.

Termino com uma foto minha em plena interacção com os hábitos alimentares dos locais.

segunda-feira, junho 12, 2006

Dia D - Os bons e os maus

Uma semana na Normandia não deu para visitar todos os museus sobre o dia D, não deu para entrar em todas as ruínas de bunkers e fotografar todos os tanques. Para um aficionado como eu em assuntos da segunda guerra mundial foi uma semana em cheio ver de perto os cenários do maior desembarque da história e talvez das decisões mais polémicas por parte dos aliados.

O que realmente interessa dizer é que quem escreve livros é quem ganha a guerra, porque quem perde, ou desaparece ou evita o assunto por ser difícil a derrota. Aliados bons, alemães maus, talvez assim fosse… era mesmo! No entanto no que toca a morrer acontece dos 2 lados e custa tanto um soldado morto americano do que um soldado morto alemão. Ao menos para mim… Vidas desperdiçadas, gerações interrompidas…

Para quem já viu o resgate do soldado Ryan, lembra-se do cemitério americano com os crucifixos brancos todos alinhados geometricamente assinalando os milhares de mortos (Omaha Beach morreram 6300 homens em hora e meia) do dia D. Eu estive lá!

O local merece respeito! Ao bom estilo americano o lugar é incrivelmente pomposo! À beira de uma falésia com vista para a fatídica praia, as cruzes alinhadas, um templo com uma estátua a lembrar um Deus grego! Venda de lembranças e claro a abarrotar de visitas. Aliás todos os guias indicam o cemitério como um ponto a não perder na descoberta da Normandia.

No entanto o peregrino, pragmático como sempre, insistiu em descobrir onde param os corpos dos alemães que morreram na libertação de França. Tarefa difícil! Se o cemitério americano está bem assinalado nas estradas e nos guias, o cemitério alemão… nada.

Depois de muitas perguntas aos locais, depois de uma hora de estradas secundárias chegámos. Lá estava ele! Apertado entre os nós de 2 autoestradas, longe de qualquer aldeia ou povoação, o cemitério alemão foi a maior surpresa de toda a viagem.

Porquê? Simples! A austeridade, frieza e rigor dos alemães tornam um cemitério num local no mínimo perturbador. A entrada era efectivamente um bunker cinzento, com uma chama na entrada e inscrições apenas em alemão. Uma enorme área de relva com um monte ao meio onde 2 anjos negros com um crucifixo ao meio vigiam os túmulos.

Incrível a existência de corvos no cemitério alemão e a ausência destes no americano. A assinalar cada morte uma chapa na relva com o nome, data da morte e a posto de comando. As fotos falam por si…

Quando o homem brinca às guerras sejam quais forem os ideais é incrível a destruição que consegue causar. Nunca gostei de números destes mas deixo aqui 2:

Durante os primeiros confrontos após o dia D, morreram cerca de 20.000 soldados aliados e morreram quase 100.000 soldados alemães…