terça-feira, dezembro 26, 2006

Viajar Solo - Córdoba e Sevilha

Permitam-me, caros leitores, uma comparação arrojada:

Viajar é como o sexo!

Podemos fazer sexo sozinhos, é uma necessidade, dá prazer, liberta a tensão e podemos focarmos no nosso exclusivo prazer. No entanto é mais do que certo que partilhá-lo com alguém é muito melhor, mais intenso e interessante. Viajar é igual! Viajar sozinho vai-se ao ritmo que se quer para onde se quer, mas é triste não se poder partilhar o que se vê o que se sente.

E foi com isso em mente com que parti para mais uma aventura em Espanha, qual coiote solitário, qual cowboy do século XXI.

Os últimos Cds de música, carro directo à auto-estrada e aí vai ele rumo ao horizonte desconhecido, que neste caso era Córdoba. O que os Cowboys do oeste americano não tinham ao atravessar as pradarias era filas de trânsito e engarrafamentos. Aí está… 2 horas de fila só para sair de Madrid e fazer os primeiros 70 Kms!

Com a Mega ponte de 2 feriados todos os madrilenos decidiram sair da cidade… lá se foi o romantismo do viajante solitário. Passa-se o tempo a cantar e a estudar o mapa de estradas e decidir caminhos alternativos. Ou a fazer caretas às crianças dos outros.

Cheguei a Córdoba e custou até conseguir arranjar alojamento, devido à quantidade de turistas na cidade. Tinha as expectativas elevadas em relação a Córdoba e foram superadas. Tudo o que me tinham falado não era exagerado. É a cidade com maior influência árabe da Europa e é fácil sentir que se está numa cidade árabe com um cheirinho espanhol.

Já devo ter visto alguns milhares de igrejas na minha vida, mas a Catedral de Córdoba conseguiu-me impressionar! E também impressionou o rei espanhol que ao conquistar a cidade aos mouros ficou encantado com o esplendor da obra e decidiu na destruí-la. Em vez disso mandou construir uma catedral católica, dentro da catedral muçulmana existente… Entra-se na catedral e a dimensão e a mistura de estilos impressiona. Um portal gótico, seguido por um portal estilo árabe, com um crucifixo seguido de uma lua. Espectacular!

Os jardins da catedral com a luz matinal a tocar as laranjeiras e as palmeiras, as sombras nos portais e o brilho nos dourados das inscrições árabes torna o lugar mágico e já não estamos em Espanha. Por falar em laranjeiras é difícil tirar uma foto nas cidades de Andaluzia sem apanhar uma árvore de cítricos. Gostei muito das decorações de natal, nas árvores de fruto fica ainda mais bonito do que em pinheiros.

Claro que a tudo isto junta-se o que de melhor há na Andaluzia, as tapas, os barzitos, o sotaque fantástico arrastado dos locais, a simpatia de todos, uma energia positiva que se transmite, ou serão os meus “olhos de férias” que vêem tudo “rosa”??

Viajando sozinho visita-se tudo mais rápido e ao fim de 24 horas já estava tudo visto. Referencia ainda à vista da cidade da outra margem do rio Guadalquivir (antigamente chama-se rio Betis, daí o nome do clube de futebol de Sevilla) com a famosa ponte romana. E ainda a fantástica comida boa e barata. Recomenda-se o Salmorejo (um género de gaspacho, mas mais consistente, para as noites frias de Inverno).

A decisão de ir a Sevilla foi tomada no momento e o facto de ter lá um contacto facilitou essa decisão. Em vez de continuar na aborrecida auto estrada e depois de vários conselhos de pessoas com quem fui falando em Córdoba, fui pela Carretera 431, que segue junto ao rio, até Sevilla, visitando assim as minas árabes de Medina Azahara e o castelo de Almodôvar del Rio.

As minas são como a versão árabe das ruínas romanas de Conimbriga e o castelo foi interessante apenas por a visita não estar planeada. De qualquer forma é bom mudar um pouco do turismo urbano para algo mais pitoresco fora das grandes cidades.

Depois de instalado em Sevilla, já tarde dei um passeio pelo centro e presenciei a serenata de uma tuna académica. Aquela malta tem uns trajes um bocado abichanados, mas até tocam e cantam bem.

Se há uma cidade que reúna mais dos ícones da cultura espanhola tem de ser Sevilha. As roupas sevilhanas, as touradas, o uso da palavra Olé, o começar a cantar uma boleria com um desconhecido, a energia e a disposição sempre de festa, as imagens de santos nas ruas, bares, tabernas, as cañas e tapas e a lista não termina. Sim Sevilha é Espanha!!

Depois de um pequeno almoço numa esplanada ao sol, a visita aos pontos de interesse, desta vez com companhia, e graças ao conhecimento local, conhecem-se detalhes e locais impossíveis de ver com o melhor livro guia. Gracias Rosana por me enseñares la “otra Sevilla”… Grandioso el “rally tapas” que hicimos! Te debo 12 pasteis de Belém!

Dia 8 de Dezembro, os típicos almoços familiares de feriado, a correria das compras de Natal, mas o que impressiona é o enorme convívio que existe em várias praças. Pessoas a beber cerveja na rua no largo duma igreja, bares e discotecas cheios de fumo e de gente bonita e com a sua melhor roupa. Mas tudo às 5 da tarde!!! Olé!

Como em todo o lugarejo português há um “café central”, também em cada cidade espanhola à uma “plaza de España” (até Lisboa tem uma). Mas a praça de Espanha de Sevilha faz jus ao nome, uma praça circular enorme, com painéis de decorativos de cada cidade espanhola. Querem ver e sentir as diferenças comportamentais, físicas e sotaques diferentes, de espanhóis de toda a parte de Espanha? Então vão à praça de Espanha em Sevilha.

Pequenos grupos de turistas, juntam-se ao painel da sua cidade para tirar a foto típica. A mostrar que somos todos iguais! Todos gostamos de encontrar um pouco da nossa casa, da nossa terra, quando estamos longe.

Sevilha ao longo dos séculos sempre lutando para ser uma das maiores cidades de Espanha, esta praça foi originalmente construída para fazer competições de remo, desporto com grande tradição nesta cidade.

Ficou muito para ver em Sevilla, mas a proximidade com o Algarve e com Portugal, origina a promessa de repetir a visita.

Termino com uma curiosidade. Sevilha em 1992 foi palco da exposição mundial da cultura. Ao contrário do que se passou com a área da antiga EXPO98, o local continua deserto depois da exposição. Não que não tenham havido projectos para urbanizações de luxo e centros comerciais gigantes, a prometer uma “nova Sevilha”. Existem tais projectos, mas os sevilhanos rejeitam que haja um bairro para “ricos” numa cidade em que existem poucas diferenças hierárquicas sociais entre bairros.



Nota adicional aos feriados espanhóis:

Não entendo porquê?, o 1º de Dezembro não foi feriado em Espanha e não se comemora a independência de Portugal. J

Dia 6 de Dezembro é o dia da restauração da monarquia em Espanha. Fim do regime franquista e regresso à monarquia.

Dia 8 de Dezembro, bem, uma das vantagens que vejo em viver numa sociedade católica.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

The most wanted english version

After piles and piles of letters asking for an English version, after so many complains from my best friends all around this Europe, here it is.

“The big official opening post of the east pilgrim in English”

Is just not the same to write in English… Somehow the English versions will be always smaller than the Portuguese ones. Less vocabulary, means less adjectives, less imagination, with your mother tongue is always another story. I will give my best!

Just following all the thousands of readers’ wishes, I will try to keep it update and all the new posts in Portuguese translated to English as soon as possible…

Of course that, in return, I want to receive all your feedback. Whatever they are silly or deep, is in your comments that I earn the motivation to keep writing it in English.

Christmas wishes to all of you…

terça-feira, dezembro 19, 2006

Relatividade de tudo…

Que o mundo seja feito de mudanças tudo bem.

Que sejamos cada vez mais individualistas, egoístas e vingativos, tanto melhor, bora nessa.

Agora quando se começa a duvidar da veracidade ou lealdade das amizades mais antigas, de infância, dessas a que se chama “é do gang” ou “é como família”, dói muito... uma dor diferente de perder um amor… uma dor mais fina, mais fodida.

Algumas amizades temo-las como certas… Eternas… mas não são… e apenas por um motivo… as crianças passam a adultos. No entanto… como algumas amizades são tão antigas, passam a ser como familiares. Por mais chatices que se tenha, por mais profundas que sejam as feridas, acaba-se sempre por voltar a elas, perdoar, esquecer. Por mais diferente que eu seja da minha irmã, por mais que nos zanguemos sempre hei-de amá-la, porque é a minha irmã e isso nunca há-de mudar.

O mesmo se passa com algumas amizades… ao entrar num plano de “família”… acaba-se por perdoar um dia. Por que afinal, amizades dessas são difíceis de substituir e ninguém gosta de estar só…

segunda-feira, dezembro 11, 2006

The Elizabeth Town - Kentuchy

Um argumento bizarro, uma história de amor previsivel. Elizabeth Town foi daqueles filmes típicos que vejo, quando o que queria inicialmente ver está esgotado, e que acabo por adorar!

Senão gostam de uma bela história de amor não o vejam, mas só pela viagem final que o protagonista faz no filme pelo interior dos EUA tendo por companhia as cinzas do seu pai morto. vale pena arriscar vê-lo.

A música é a banda sonora das nossas vidas e eu sempre sonhei com o ter em todos os momentos de cada dia, aquela música certa na altura certa. É essa a ideia do director, por o protagonista a fazer uma viagem a seguir as instruções de um CD que tem a música certa para cada cidade, cada monumento, cada momento da viagem. Toca a pegar no carro, autocarro, mota, cavalo, ou pés e partam à descoberta do desconhecido.

Deixo aqui uma frase tirada do filme (visitem http://www.elizabethtown.com/):

“You will find that it is all very familiar.. the strange and faraway places where you’ve never been. The wild unknown leads you to a place just around the corner. Take a picture when you get there… the road is you.”

The Road
J. Bebe – R. Hammond

Uma semana “viajando” em trabalho


É bom ter um trabalho que permite viajar. É melhor do que ficar sempre no escritório. É verdade! Fugir à rotina e tal… No entanto para além de cansativo é frustrante, por estar em sítios interessantes e não ter tempo nem para lhes sentir “um cheirinho”. Conforme as horas vão passando cresce a esperança de conseguir acabar o trabalho antes de anoitecer, olhar lá fora e ver palmeiras e o sol de Inverno das Canárias e não puder sair do armazém.

Foi assim esta semana. Por motivos profissionais tive de viajar a Barcelona e a Tenerife esta semana acompanhado por 2 colegas da Compal Portugal.

Barcelona é outra Espanha… Madrid é uma cidade incrível com um ritmo alucinante 24horas por dia! As tapas, a música, a forma positiva de enfrentar a vida, em resumo a essência espanhola. No entanto não é bonita. É cidade para trabalhar e para curtir noitadas 7 dias por semana até cair para o lado, mas há “un monton” de cidades mais bonitas com muito mais para ver e visitar.

Um exemplo disso é Barcelona. É uma cidade linda… Arte e monumentos existem em cada esquina, em cada casa, em cada parede… a cidade surpreende. Tem montanha, tem água, tem muita cor. Madrid pode ter muitos emigrantes e muitas nações a viverem juntas, mas em Madrid tem de se falar e ser espanhol e gostar do que eles gostam. Barcelona é outra história multicultural sim, mas muito mais tolerante para estrangeiros, muito mais aberta a falar outras línguas; e isso nota-se nos bares, nota-se nas ruas, nota-se nos cinemas com legendas em espanhol ou catalão em vez de dobrados.

O tema quente da independência da Catalunha, do facto da juventude só aprender catalão e das aulas nas universidades serem em catalão e do facto de haver barreiras a outros espanhóis de irem trabalhar para Barcelona senão falarem Catalão, deixo para outra altura. Demasiado polémico para este Blog. Melhor voltar às viagens…

A primeira vez em Barcelona foi no meu primeiro ano de ISCTE e foi uma viagem muito marcante nem que seja apenas pelo facto de ter conhecido 2 malucos que pertencem hoje ao meu pequeno núcleo de melhores amigos. O tempo não esteve famoso e tivemos pouco tempo para passear pela cidade.

Desta vez não foi diferente. Depois do trabalho só deu tempo para o passeio nas Ramblas e no bairro gótico e uma Paella daquelas que a semelhança com o nosso “arroz à Valenciana”, é pura coincidência. A verdadeira Paella é de Valência, ingredientes idênticos, mas sabor e cor não tem nada a ver.

Mais um dia mais uma viagem e como farta toda a cerimónia de apanhar um avião. Saímos de Barcelona onde as tabletas no aeroporto vêm nos idiomas: Catalão, castelhano e inglês. Chegamos a Tenerife e temos: Espanhol, alemão e inglês.

Alemães por toda a parte e avenidas com hotéis, praias, lojas de “recuerdos” e quadros de giz a anunciar jogos de futebol da Budesliga e Premiership, e é fácil pensar:

“Cheguei ao Algarve!”

A grande diferença são as palmeiras e o facto de ser Novembro e estarem 26ºC e uma humidade que mantém o suor pegado ao corpo. E viva as Canárias!

No 2º dia de trabalho deu para terminar mais cedo e conhecer o norte da ilha. O “El Teide” omnipresente e sendo o ponto mais elevado de España merece respeito. Como a maioria dos ventos vêm do norte as nuvens ficam “presas” no alto da montanha o que faz com que o norte da ilha seja de um verde exuberante, enquanto que o sul é seco e árido qual deserto do Sahara.

Desta vez só deu para ver o norte. O porto de Santa Cruz é uma cidade alemã e inglesa com as suas praias de areia negra e água quente, mas gostei mais da capital da ilha, Santa Cruz de Tenerife. Sem praia torna-se menos turística, logo mais monumentos, menos hotéis, mais edifícios antigos, em resumo: mais da cultura local. Os canários são muito simpáticos e o sotaque local é muito mais melódico e fácil de entender.

Fica a vontade de voltar, mas na próxima com mais tempo para ver a noite e conhecer o sul com as suas praias de areia branca e discotecas cheias.

Termino com um detalhe delicioso… em Madrid e Tenerife fala-se Espanhol, mas perguntem a um catalão e ele diz que em Espanha se fala Castelhano. È um país curioso…