terça-feira, julho 08, 2008

Bilbao - Museu Guggenheim

Em 1 hora e pouco chegamos a Bilbao vindos de San Sebastian. Calhou bem o dia nublado, demos assim uma pausa à pele bronzeada já a cair.

Bilbao não surpreendeu muito. Menos arejada que San Sebastian pela falta de costa, mas idêntica na organização, nos serviços, na arquitectura, nos pinchos, etc.

Num domingo os centros urbanos estão parados e nada têm a ver com um dia laboral, no entanto coincidindo com o festival de música heavy metal na cidade, em particular com o concerto dos Kiss, vivia-se um ambiente literalmente “preto” na cidade.

O passeio obrigatório pelo centro na hora da sesta, revelou-nos uma cidade parada num domingo de calor, com o comércio quase todo encerrado e com os ocasionais grupos de góticos e juventude de má cara.

Complicado é visitar Bilbao e não ir ao museu de arte contemporânea Guggenheim. Famoso internacionalmente, o incrível museu levou a cidade de Bilbao a fama internacional.

O exterior do edifício é magnifico e o gato feito com dezenas de milhares de flores é mais engraçado ao vivo do que nas fotos. Ao redor o contraste do edifício com os edifícios municipais traz aquele contraste chocante, tipo Amoreiras em Campolide.


As exposições permanentes no interior decepcionaram-me devido às elevadas expectativas dadas pelo exterior do museu. Aquela sensação de comprar uma maça luzidia e descobrir que está podre por dentro à primeira dentada.

No entanto a arquitectura interior supera ainda mais a exterior, mas as exposições e obras permanentes aí expostas não surpreendem e pessoalmente considero a actual exposição no CCB do Bernardo muito mais completa. Surrealismos à parte, as exposições temporárias compensaram os 14€ pagos para entrar.

Realmente inesquecível foi toda a obra, as esculturas enigmáticas, loucas, de Juan Muñoz que se encontra exposta durante o verão. Gostei especialmente de uma obra chamada:

Muchas Veces

Dezenas de bonecos de dimensões reduzidas (cerca de 1,5 metros) estão colocados em várias posições e situações. Espalhados cuidadosamente no espaço. Quem visita e atravessa por entre os bonecos debate-se sobre quem observa e quem é observado. No entanto só os corpos mudam, as caras são sempre as mesmas. Um sorridente asiático a sorrir que o autor das esculturas comprou o molde num mercado enquanto viajava.


Para saber mais sobre o museu clique em:

http://www.guggenheim-bilbao.es

Para saber mais sobre a obra e vida de Juan Muñoz clique em:

http://www.adamar.org/ivepoca/node/529

Ou ainda este filme com partes da exposição:

http://www.soitu.es/soitu/2008/05/26/infovideos/1211807907_138919.html

segunda-feira, julho 07, 2008

País Vasco - Euskadi

Sendo eu um defensor dos ideais e valores da EU, muito bonitos mas difíceis de pôr em prática, seria incoerente da minha parte defender os motivos de uma região que insiste em ter a palavra “país” na sua designação.

Motivações e métodos para atingir fins à parte, não discuto a validade dos argumentos da ETA, sou português, e como dizem em castelhano: “me dá igual!”. Em vez de Buenos dias, diz-se bon dia, Ok, mente aberta e vamos lá visitar.

Detalhes que sobressaem rapidamente ao meu olho de turista treinado:

- O autocolante do Touro Osborne colocado atrás dos carros espanhóis é substituído no país Vasco por uma ovelha.

- O Pijo (beto) madrileno é substituído pelo gótico com colar de picos ou o cabelo rapado, com nuca em rasta, longas patilhas e muitos piercings.


- Pontualidade e rapidez nos serviços.

- Vespas e Scooters por toda a parte.

- O idioma local está na maioria das placas e menus, mas encontrámos pouca resistência em falar castelhano. É totalmente diferente do espanhol, com uso abusado das letras K, X e Z.

- Muito menos maquilhagem usam as mulheres, comparando com o centro e o sul do país.

SAN SEBASTIAN (Donostia)

Quem lá vive tem grande qualidade de vida! A praia de areia branca em forma de “U” com 2 elevações verdejantes em cada extremo chamam para longas horas de banhos de sol, jogging ou passeios de bicicleta pela marginal limpa, com candeeiros de rua impressionantes e esplanadas.

Bebem-se granizados de limão e aprecia-se pinchos e cerveja nos prédios cuidados, com toldos laranja e verdes. Cansados de praia sobe-se aos castelos pelos parques de sombras frescas para relaxar do calor e ver as vistas.

Durante séculos foi a cidade eleita para as férias de verão dos monarcas. Tinha bom gosto Isabel II. Filme panorâmico do topo do monte Urgull:


Correu bem, dormi muito, sai “de copas” e praia, gelados e cañas. Diz o slogan turístico:

Sorri! Estás em Espanha!

Não estou nada! Estou no país Vasco!


Um pouco de história: Ingleses e portugueses lutaram juntos e atacaram San Sebastian para expulsar o exército francês. Na retirada, as tropas de Napoleão destruíram a cidade, daí todos os edifícios parecerem e estarem de facto em tão bom estado.

O museu grátis no topo do monte Urgull entre a praia de la concha e a praia de la Zurriola faz um resumo histórico interessante da cidade, com o sagrado coração de Jesus mesmo por cima a abençoar a cidade:


quarta-feira, julho 02, 2008

Expo 2008 Zaragoza



Quem disse que em Zaragoza não se pode fazer praia?!? Praia faz-se onde um homem quiser...


Fotos tiradas no pavilhão Austriaco na Expo 2008... muito calor!

Made in Biarritz - Surf's Up Dude

Alguns palácios opulentos da marginal Oeiras – Cascais parecem-me claramente desenquadrados com a nossa arquitectura típica com as casas brancas com telhas laranja.

A comparação entre Cascais e Biarritz é fácil e rápida! E esses palácios a que me refiro parece que foram trazidos de lá.

Cidade turística, capital de surf, respira-se mar, marisco, estilo e riqueza! A maioria dos edifícios tanto privados como públicos estão impecáveis, nobres, belos. Permitam-me a comparação… Biarritz é a versão francesa e maior de Cascais.

No entanto uma caminhada de 5 minutos para longe das praias e dos restaurantes e o que se vê? Dezenas de lojas de surf e institutos de beleza, mas supermercados… nada!

Foi tudo um choque para mim! Nessa manhã acordei, olhei pela janela e vi a neve dos Pirenéus. Na mesma noite deitei-me e vi o mar e a praia. Um delta de 3000 metros no mesmo dia. A lua está cheia, estamos na 2ª fase das férias, praia.

De volta à civilização, aos restaurantes fast food, às transmissões dos jogos do Euro2008, mas não tinha saudades de nada disto. Apenas de um duche quente e duma boa cama.

terça-feira, julho 01, 2008

Achados no Monte Perdido

Começam as férias com uma travessia pelo pais Vasco, Aragon e Navarra. Um dia na Expo de Zaragoza e começa a parte de montanha.

Alugamos um carro e partimos em direcção a Torla. Demora cerca de uma hora de curvas e túneis e cruzamentos enganados para chegarmos à cidade maior do parque natural. Passamos por inúmeras aldeias navarras com as casas graníticas cinzentas e os telhados pontiagudos para a neve.

Estamos já atrasados quando chegamos ao estacionamento onde deixaríamos o carro. Cerca de 1600m de altitude. Prepara-se as mochilas pequenas, roupa e comida para 2 dias. Falamos com o guarda do parque para nos dar indicações do tempo. Não é preciso, partimos às 17:00 e começa a chover bem.

Fora a chuva, o percurso marcado é fácil e começamos com o passo rápido típico de quem tem muita vontade de começar. Cruzamo-nos com várias pessoas que regressam no sentido oposto.

É impossível descrever o cheiro a terra molhada, a pressão que sentíamos de ter de chegar a tempo ao abrigo na montanha antes de anoitecer, o verdadeiro desconhecido, o cheiro a aventura.


Tudo muito verde, molhado e húmido, não é a chuva que reduz a beleza do percurso que fizemos ao longo dum rio. Pouco a pouco o terreno acentua-se, as águas cada vez mais tumultuosas, transformam-se em cascatas de várias dezenas de metros e já suados e com a chuva bastante forte, chegamos ao inicio do vale com 2 massivos de rochas em redor, cobertos de árvores até ao topo. Imponente! Total sensação de liberdade!

As árvores vão sendo mais escassas à medida que avançamos no vale.

Lindíssimo!

O Monte Perdido surge ao fundo do vale. Ficamos surpreendidos com a quantidade de neve que existe no último cume. Sente-se respeito pelos desafios dos próximos dias.

Vale antes da "cola del caballo" O vale visto de cima perto do abrigo

O vale tem algo de mágico. Cursos de água escorrem dos lados e dão origem a um rio no meio. Um pequeno grupo de vacas pasta na erva encharcada pela chuva. E ao fundo o cume nevado, o monte perdido. É para lá que vamos.

Temos a pressão do tempo do nosso lado! Temos de chegar ao abrigo. Levamos um ritmo intenso, empapados e sobre pressão começamos a subida final, a parte mais dura do primeiro dia.

Não é medo que se sente! É um “estar” ciente dos riscos que se correm…

Umas nuvens pairam sobre o vale e para nosso azar seguem-nos como que a perseguirem-nos na subida.

Visibilidade Zero!

As pedras têm pinturas que assinalam o caminho, é o que procuramos para não nos perdermos. Entramos numa fase em que a dor e o cansaço nos elevam o espírito para um novo nível.

Tocamos a primeira neve e poucos minutos depois chegamos finalmente ao abrigo. Um percurso feito em tempo recorde de 3 horas e meia de caminhada.

O abrigo de Goriz fica a 2136 metros de altitude. Casa de pedra simples, útil, prática. Tudo está feito para aproveitar ao máximo os recursos naturais e para poupar ao máximo todos os bens. Os reabastecimentos aqui só de helicóptero.

Sala e cozinha no piso de baixo. 2 camaratas com 9 beliches de 3 andares cada no primeiro andar da casa. Conforto mínimo.

Estamos felizes de ter chegado, mas não temos banda à espera. Temos um jantar rico e quente à espera:

- Sopa de lentilhas

- Salada Mista

- Carne de porco guisada com cus cus

- Natilhas (parecido com o nosso leite creme)

A única água que nos servem está gelada e vem directamente dos glaciares. Bebo! Para-me a digestão!.

Tenho uma noite horrível com dores de estômago. WC a 60 metros no exterior do abrigo. Está muito frio lá fora, mas o céu está limpo. Uma lua crescente enorme, estou mais perto do céu.

No abrigo levanta-se e deita-se tudo muito cedo. Acordamos às 5 da manhã, toma-se um pequeno almoço ligeiro, parte-se rumo ao topo, 3310 metros.

O sol brilha, mas ao fim de alguns metros temos neve. Muita neve que se derrete rapidamente.

Subimos a muito custo! Não temos equipamento adequado. Passam por nós verdadeiros profissionais, esquis, crapones, bastões nas mãos, sobem ziguezagueando, parece fácil.

A neve entra nas botas, enterramo-nos por vezes até à cintura, tropeçamos, caímos, mãos na neve.

Quando avistamos os 3000 metros desistimos, a inclinação impossibilita o nosso avanço. Nestas altitudes o clima muda drasticamente. Chove a potes. Descemos ao abrigo.


Que ambiente se vive nos abrigos de montanha. Fala-se pouco no abrigo. Uns apanham sol, outros estão exaustos demais para fazer o quer que seja. Há outros que se deitam logo e tentam recuperar energias para o dia seguinte. Prepara-se equipamentos. Rações. Limpam-se as botas, põe-se roupa a secar perto duma estufa. Poucos têm coragem de tomar banho de água gelada.


Estão todos muito felizes de ali estar! Pouco conforto, mas muita aventura, liberdade total, levar o corpo a limites. Apenas querem aproveitar ao máximo o que natureza tem de mais belo e escapar da realidade da rotina diária.


Algumas fotos comentadas dos 3 dias na montanha. Clicando nas mesmas vêem-se maiores.


Paisagens do 2º dia, da esquerda para a direita: Topo de uma catarata; desgelo; apanhado em acção;

Alguns obstáculos ultrapassados com mais ou menos perícia:



O momento glorioso na altura máxima atingida:


As fotos national geographic: Um mangusto surpreendido por trás deita-se no extremo da falésia a vigiar o vale; Bovinos aproveitam o vigoroso sol da manhã para exercitar corpo;



As mais impressionantes paisagens: