quinta-feira, novembro 06, 2008

Dilúvios onde andam eles?

Fins de semana chuvosos.

Deixa chover! Como dizem os Meireles: “haver se as couvinhas começam a medrar”.

Não temos agora chuvas prolongadas, apenas diluvios localizados. Foi assim 2 fins de semana seguidos.

No primeiro tinha planeado um piquenique com amigos na Arrábida e, devido a pancada de água, acabámos por fazê-lo em casa de um deles e passámos a tarde a jogar emuladores de jogos arcade clássicos.

No segundo fim de semana andava a passear pela baixa. Lia o jornal num sentado num banco do já restaurado mirador de São Pedro de Alcântara. A vista para rio apresentava-se com céu azul e o sol de meio dia forte, febril.

Olho para o lado oposto, para norte e vejo isto:

“Foge que vem aí marosca!”

O refugio acabou por ser no Crew Hassan, abrigo improvisado enquanto a chuvada passava. Longe estava eu de saber o que se passava naquele momento em Sete Rios, a poucos kilometros dali. Soube apenas no dia seguinte a força da queda de água e dos estragados enormes, mas localizados, causados.

Adoro as cores das fotos tiradas após forte chuvada.

Acabou-se a tarde e a noite em jantar “premium” com amigos, boa música e uma dose de Scrabble.

Onde cairá o próximo dilúvio? Quem souber que me avise para tirar de lá o carro a tempo.

Tributo aos felinos

Adoro gatos. Algumas fotos tiradas nas últimas viagens:





Estes 2 caçavam algo que estaria pousado na árvore.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Vela nas Ilhas Ciclades

Qual a origem da expressão:


“Vimos-nos gregos para cá chegar” ?!?

Se alguém souber ajude-me, apesar de já ter uma ideia. Sinceramente não foram tudo rosas na última viagem à Grécia. Arriscando ir no fim do verão e com pessoas com diferentes expectativas do que seria uma semana a navegar à vela num barco, correu tudo menos como planeado.

Se algo tem de correr mal, na Grécia acontecerá de certeza. Multa no metro de Atenas, mala perdida no aeroporto, chuva 3 dias com barco parado, com tanta dificuldade, que guardo então da experiência de navegar com amigos por ilhas áridas e semi desertas?

Antes de responder vejamos alguns números da Grécia, um país com muitos múltiplos de 10 na sua estatística:

• 10 milhões de habitantes à semelhança de Portugal.

• Apenas 10% da população vive nas mais de 1000 milhas.

• 1 ano de vida militar obrigatório.

• 10 milhões de História para contar.

Numa feira de barcos, o amigo André arranjou o contacto de uma empresa que aluga barcos para fazer cruzeiros à vela pelas ilhas gregas. Como ninguém da equipa sabe velejar temos de alugar barco com capitão incluido, o skiper.

O arquipélago central das ilhas Ciclades, o objectivo:

Em cima o mapa das ilhas visitas e o percurso que fizemos, bastante diferente do plano inicial.

As cyclades derivam da palavra grega para círculo, KYKLOS e são isso mesmo. Um circulo de ilhas áridas, secas, com casas brancas com telhados azuis empoleiradas em penhascos, com praias de todos os géneros e gostos. Vistas Maravilhosas!

No centro do círculo a miniscula e desabitada ilha de Delos que já foi a capital de uma civilização e tem das mais importantes e maiores ruinas do país.

Os habituais ventos para Sul, criam as condições ideiais para navegar à vela desde Atenas a Norte até Santorini ou ainda Creta mais a Sul. As empresas de ferries que ligam as diversam ilhas são inúmeras e aluguer de barcos à vela e iates é o que não falta.

O problema é quando o vento não sopra, e, em vez disso, cai uma chuva forte, um dilúvio fora de época e fora do normal no exacto dia em que chegamos a Atenas.

Ninguém pode sair do Porto. Demasiado longe do centro de Atenas para uma visita à chuva da capital, acabámos por ficar no barco e aguardar que o tempo melhore. No dia seguinte a chuva pára, e lá parte o barco contra o vento, com o mar demasiado agitado. Demasiado para os aspirantes a marinheiros.

O barco partiu no entanto sem mim, que optei por uma não menos dificil aventura de recuperar a minha mala que tinha ficado na escala que fizemos em Milão. Só as peripécias nos autocarros do interior e nos serviços de bagagem do aeroporto davam para um livro, mas digamos que deu para ficar mais “dentro” da cultura grega e verificar que os gregos são muito parecidos com os portugueses em tantas coisas...

Quando cheguei de ferry à primeira ilha, KEA, já tarde, encontrei uma tripulação desanimada, enjoada, arrasada com o primeiro percurso de mar bravo que venceu o estômago de todos.

A foto da tripulação:

Da esquerda para a direita:

Pavlo, André, Pedro, Katarina, Filipe e Madzia.

Uma outra com o capitão Steve concentrado na condução do barco:


A sensação de velejar é dificil de expor em palavras. O azul do mediterrâneo, os sons do barco no porto que embala enquanto se dorme. Os instrumentos de bordo, o piloto automático com GPS, as velas, os cheiros.



Javier Reverte, no seu livro “Corazón de Ulises”, sobre uma viagem que fez de barco na Grécia, escreveu o seguinte que traduzi:

“...Grécia é azul e branca, como as cores da sua bandeira. Alegra a alma com a sua potente luminosidade, o milagre da imensidão do seu céu, que se torna em escuridão tenebrosa durante as noites sem lua.

Aquela primeira parte da viagem, já em pleno mar e rumando a Nauplia, sentado na varanda do barco, sem luz nenhuma e com aquele enorme espaço à minha frente, com a sensação de transitar no nada, o tempo não existe! Nunca existe na verdade quando o mar nos engole na noite negra.
Mas mesmo assim há calma e o navio desliza com suavidade sobre as águas.

Morrer, sonhar? Perguntar-se-ia Hamlet.

Quem sabe nascer, porque viajar supõe uma forma de nascimento, mesmo que caminhando através do vazio e ausente de tempo...”




Não se navegou durante a noite. A “rotina” diária de umas férias destas é:

  1. Acordar 7 da matina.
  2. Reunião para falar da direcção, da previsão das condições meteriológicas, o vento, a direcção, a nova ilha para onde se vai.
  3. Preparar barco para partir (cordas, âncora, arrumar toda a loiça nos compartimentos para não cairem). Partida
  4. Come-se pouco, algo seco, para não enjoar.
  5. Abre-se vela, ou vai a motor. Lêem-se livros, dorme-se, apanha-se sol, ouve-se musica, conversa-se. São sempre 4 a 6 horas de distância.
  6. Chega-se entre as 14, 15h à nova ilha. Procura-se lugar na marina para atracar.
  7. Colocam-se boias protectoras, baixa-se âncora ajuda-se na manobra.
  8. Almoça-se.
  9. Visita-se a ilha. Faz-se praia. Nada-se, mergulha-se.
  10. Banhos, procurar lugar para jantar. Bebe-se,
  11. Dorme-se ou sai-se à noite.


Claro que o programa seria diferente se o barco fosse alugado sem capitão.

E novo dia, nova ilha.



O ambiente nas marinhas com tanto barco alugado acaba por ser semelhante ao de um parque de caravanas no campismo. As toalhas de praia e biquinis a secarem penduradas nos barcos. O convivio fácil com as tripulações de outros barcos.

Há convites para beber noutras embarcações, há festas e dança-se ao som dos Abba.

Como o café expresso é a 2,5€, a opção recai para os Frappé gelados muito bons.

Chegada a Citno, ilha pouco concorrida, umas 2 centenas de habitantes. A época alta já vai longe. Damos um passeio pela ilha praticamente deserta. Mergulhamos nas águas quentes duma nascente ferrosa que desagua neste “jacuzi” improvisado.



Uma calma e um silêncio em toda a ilha. Paz. Não só em terra, no mar a paz também se instala quase todos os dias. É o desespero para quem vinha com grandes expectativas de velejar com vela, sem vento, só mesmo o motor é que nos desloca.



Mais um dia, o sol brilha pela primeira vez e foi assim o resto da semana. Queremos praia e é o fazemos ao chegar a Serifo depois de um belo almoço.




Quando o calor acalma apanhamos o autocarro para o centro da capital da ilha. Por estradas sinuosas num autocarro mais que velho, serpentiamos colina acima. Avisam-nos que daí a uma hora há outro autocarro.



À excepção de alguns turistas a cidade encontra-se totalmente vazia. Branco e azul, as ruelas num sobe e desce labirentesco. Avista-se todo o azul do mar em redor. Uma ilha ao longe rompe a monotonia azul e lá em baixo ao longe na marina, os barcos continuam a chegar ao porto.



O prémio para a foto mais "Mamma Mia" que tirámos foi:


Na ilha seguinte, Paros, já se sente o movimento e o ritmo de uma grande ilha. Já na rota principal dos ferries, Paros é uma cidade totalmente virada para o turismo. Bares, comércio, restaurantes, fazem as delicias dos turistas e depois de varios dias de pequenas ilhas praticamente desertas soube bem voltar a ver animação e muita turistada até bastante tarde.





Se Paros será Albufeira, IOS a ilha seguinte é como Lagos. Num ambiente mais alternativo, os turistas jovens trabalham nos bares e discotecas da cidade e nos quiosques de praia.

A "ilha festa", mesmo em fins de Setembro ainda tem uma noite animada com dezenas de opções, pequenos bares dançantes, para todos os gostos.

A melhor praia de verdadeira areia branca foi em IOS, apesar das nuvens do fim de tarde. A superba praia de Mylopótas.




E é isto as ciclades. Quando partimos para Santorini estamos já cansados da vida de marinheiro e ansiamos trocar a cama pequena e balonçante do veleiro, por um colchão grande, duro e firme em terra firme.



Como a canção portuguesa dos loucos anos 90:

“Essa vida de marinheiro, está a dar cabo de mim, roporoporoporoporoporopori.”