terça-feira, junho 20, 2006

Das montanhas Tatra para a cidade de Madrid

Durante o meu erasmus em Kraków tive de fazer uma apresentação sobre Portugal com um público de cerca de 100 erasmus bêbados num acampamento nas montanhas Tatra. Antes de mim, a apresentação de Espanha incluiu uma tourada com um touro polaco e a apresentação francesa incluiu muita música, dança e 2 homens a beijarem-se. Sendo o único português era complicado elaborar uma apresentação complicada como os meus colegas com grupos de 20 e mais pessoas. A responsabilidade era enorme, mas correu bastante bem! Umas piadas iniciais, seguidas de um marketing agressivo sobre as razões de visitar Portugal e como me pediram para falar a minha língua nativa que muitos desconheciam, recitei toda a letra do nosso hino, não cantado, mas como lendo um excerto dos Lusíadas.

No início dessa noite assisti a uma discussão entre um polaco, alemão e francês sobre quem é o centro da Europa. Todos se consideram o centro da Europa. Os meus estudos em Kraków chamavam-se European studies in Central Europe. Tudo muito subjectivo…

Uma das minhas piadas iniciais na exposição sobre Portugal foi mais ou menos assim:

“Everybody wants to be in the centre! France, Poland, Germany, discuss about it. At least we Portuguese are sure about one thing! We are in the West! No doubt about it! So tonight I advice you: GO WEST! Why?!? Because we have 300 days of sun in a year…”

E continuou o discurso de agente turístico que frequentemente uso. Fiquei em segundo lugar e ganhei uma garrafa de wótka! Portugal soma e segue!

Isto para concluir que a alcunha que o meu pai me deu, Peregrino do Leste, não podia ser mais apropriada! A não ser que me desloque até ao cabo da Roca, para onde quer que viaje na Europa estou a ir para Este.

E foi assim que recentemente me apresentaram uma oferta para trabalhar fora do nosso país. O apelo lá de fora desde o final do curso que o sentia, logo disse sim sem hesitar. A partir de Julho vou trabalhar para “leste”, para Madrid. No entanto vou continuar a trabalhar para uma empresa portuguesa e a dar a minha contribuição a esta terra de Sol no cantinho da Europa.

sexta-feira, junho 16, 2006

Emigrantes Polacos

Tenho acompanhado o êxodo massivo dos emigrantes polacos após a entrada na EU. Como maior parte dos países lhes fechou a porta do mercado de trabalho, só a Irlanda e a Inglaterra têm beneficiado desta mão de obra barata e altamente qualificada. E já vamos com 800.000 na Irlanda e 1.000.000 na Inglaterra. Ao contrário de nós, os emigrantes qualificados ficam e os menos são mandados embora após o trabalho temporário. Num estudo sobre emigração polaca no site da EU, li a opinião de uma emigrante polaca de como se deve fazer para sair dos trabalhinhos de serviço às mesas para posições mais altas nas empresas inglesas e irlandesas.

Reparem na determinação destes eslavos:

“The way it works is like this. You start off in a bar or restaurant. You get to know the costumers and find out what they do. When you find one who has the kind of work that you like and can do, you make friends with them and try to get introduced to their boss. Then you persuade him to try you out for a week, even unpaid. And because you are polish and have good skills and work hard, you will get a job. Maybe even your new friend’s job

Hehehe! Isc, isc polska!

quarta-feira, junho 14, 2006

Momento Zen - Mont Saint Michel

Entre a Normandia e a Bretanha existe um lugar encantado. Um castelo mágico que nos fala de lendas, traições, histórias de amor e fé.

Mont St. Michel!

Tinha conhecimento das grandes marés vivas do norte de França, mas fiquei impressionado com a rapidez com que a água sobe, incrível! No meio de uma planície a perder de vista foi construída uma fortaleza que fica rodeada por água por todos os lados durante a maré cheia.

A visita acabou por não ser muito agradável, porque fui no 1º de Maio e estava a “deitar por fora” de turistas. Um oceano de turistas atafulhados pelas ruas, ruelas e becos da aldeola em redor da principal catedral. Impossível o tráfego…

Fica o registo da grandeza do local, o misticismo, que embora enevoado pelas ordas de turistas, me deliciou com um sentimento de isolamento e paz com água a perder de vista em todas as direcções.

Termino com uma foto minha em plena interacção com os hábitos alimentares dos locais.

segunda-feira, junho 12, 2006

Dia D - Os bons e os maus

Uma semana na Normandia não deu para visitar todos os museus sobre o dia D, não deu para entrar em todas as ruínas de bunkers e fotografar todos os tanques. Para um aficionado como eu em assuntos da segunda guerra mundial foi uma semana em cheio ver de perto os cenários do maior desembarque da história e talvez das decisões mais polémicas por parte dos aliados.

O que realmente interessa dizer é que quem escreve livros é quem ganha a guerra, porque quem perde, ou desaparece ou evita o assunto por ser difícil a derrota. Aliados bons, alemães maus, talvez assim fosse… era mesmo! No entanto no que toca a morrer acontece dos 2 lados e custa tanto um soldado morto americano do que um soldado morto alemão. Ao menos para mim… Vidas desperdiçadas, gerações interrompidas…

Para quem já viu o resgate do soldado Ryan, lembra-se do cemitério americano com os crucifixos brancos todos alinhados geometricamente assinalando os milhares de mortos (Omaha Beach morreram 6300 homens em hora e meia) do dia D. Eu estive lá!

O local merece respeito! Ao bom estilo americano o lugar é incrivelmente pomposo! À beira de uma falésia com vista para a fatídica praia, as cruzes alinhadas, um templo com uma estátua a lembrar um Deus grego! Venda de lembranças e claro a abarrotar de visitas. Aliás todos os guias indicam o cemitério como um ponto a não perder na descoberta da Normandia.

No entanto o peregrino, pragmático como sempre, insistiu em descobrir onde param os corpos dos alemães que morreram na libertação de França. Tarefa difícil! Se o cemitério americano está bem assinalado nas estradas e nos guias, o cemitério alemão… nada.

Depois de muitas perguntas aos locais, depois de uma hora de estradas secundárias chegámos. Lá estava ele! Apertado entre os nós de 2 autoestradas, longe de qualquer aldeia ou povoação, o cemitério alemão foi a maior surpresa de toda a viagem.

Porquê? Simples! A austeridade, frieza e rigor dos alemães tornam um cemitério num local no mínimo perturbador. A entrada era efectivamente um bunker cinzento, com uma chama na entrada e inscrições apenas em alemão. Uma enorme área de relva com um monte ao meio onde 2 anjos negros com um crucifixo ao meio vigiam os túmulos.

Incrível a existência de corvos no cemitério alemão e a ausência destes no americano. A assinalar cada morte uma chapa na relva com o nome, data da morte e a posto de comando. As fotos falam por si…

Quando o homem brinca às guerras sejam quais forem os ideais é incrível a destruição que consegue causar. Nunca gostei de números destes mas deixo aqui 2:

Durante os primeiros confrontos após o dia D, morreram cerca de 20.000 soldados aliados e morreram quase 100.000 soldados alemães…