quarta-feira, agosto 23, 2006

Fronteiras e Religiões

Nós, cidadãos da união europeia, já há algumas dezenas de anos, temos a facilidade em esquecer como era difícil atravessar fronteiras para outros países. Este verão voltámos a recordar isso. Búlgaros e romenos dão-se bastante mal, e turcos… bem nem romenos nem búlgaros, nem ninguém nos arredores, gostam deles. Isso tornou bastante aventureiro tentar atravessar as fronteiras. Quando planeámos a viagem, era claro que de um país para outro simplesmente apanhávamos um comboio ou um autocarro e pronto, já está.

Nem pensar…

Da cidade romena Constanza um autocarro até outra cidade perto da fronteira da Bulgária. Dessa cidade um mini bus até à fronteira. Na fronteira atravessamos a pé e passamos todos os controles e mais alguns e do lado búlgaro negociamos com um taxista o preço para uma cidade a 20km da fronteira onde poderíamos apanhar um outro autocarro para o nosso destino final. Tudo feito num record de um dia. Lá se foi o plano inicial de o fazer em 4 horas.

No entanto são esses contratempos que juntam a palavra “inesquecível” à palavra “viagem”.

A tendência para quem não conhece outros países é dizer que são todos iguais. Antes de visitar a Lituânia, Letónia e Estónia, colocava estes países todos no mesmo saco. Realmente não se pode fazer comparações, incrível como estes 3 países pequenos podem ser tão diferentes em costumes, tradições, religiões, moeda, moda, etc, etc, etc.

Agora também não tenhamos ilusões, para um senhor que vende pipocas na Letónia, Espanha e Portugal são iguaizinhos.

Este verão fomos para a Roménia, Bulgária e Turquia com a certeza de encontrar diferenças, no entanto claro que fomos surpreendidos. Devido às diversas invasões turcas durante séculos, tanto a Roménia como a Bulgária, têm muitas influências, na música por exemplo é mesmo óbvia.

Não quero dar muito a minha opinião acerca das religiões dos outros, no entanto é este factor que mais distancia os países e que mais contrastes cria. Temos uma Roménia pobre com uma maioria absoluta de ortodoxos, ciganos e turcos.

Depois uma Bulgária, que sempre se apoiou na Rússia depois da II grande guerra, para manter a sua independência e pôr os turcos à distância. Então temos um país onde o governo apoia o ateísmo, onde a ausência de religião é apoiada na força do “estado”.

Finalmente temos a Turquia, onde tivemos o nosso primeiro contacto, sempre chocante, com o islamismo, bom e isso sim provoca diferenças. A forma como as mulheres são tratadas e o rigor religioso são impressionantes, mas o que gostei mais foi o facto de 5 vezes ao dia pelos altifalantes de toda a cidade se transmitir rezas em árabe. Das 4 noites que estivemos em Istambul, em duas delas acordei com essa transmissão.

Sim foram umas férias ricas de contrastes! Num dia estamos numa discoteca búlgara ao pé da praia onde se dança em roupa interior, ou sem ela, dentro de uma piscina; noutro dia estamos a deitarmo-nos às 23h depois de ouvir uma reza em árabe e beber um chá turco.

E para quê entrar em mais pormenores… Deixo aqui 2 fotos que exemplificam bem as diferenças causadas pela religião. Foram ambas as fotos tiradas a anúncios em paragens de autocarro:

Um anúncio a um protector solar na Turquia, onde a rapariga nem biquini tem vestido e reparem no detalhe do cabelo a tapar ao máximo o corpo.


Um anúncio a um votka (tipo eristoff ice) na Bulgária. Sem comentários…

Curiosidades e contrastes Culturais

O que é certo para uns é errado para outros. O que é “normal”?? Uma parte boa de viajar é que se vê comportamentos diferentes que mudam a nossa opinião e nos fazem questionar se o que fazemos e se o que achamos “normal”, realmente o é!

Uma tourada normal e tradicional em España é inaceitável na Índia já que são animais sagrados. Achamos terrível comer cão ou baratas, mas no entanto comemos caracóis e sandes de coiratos.
Deixo aqui alguns contrastes culturais para reforçar o ponto de vista que realmente somos todos tão diferentes o que torna a palavra “normal” algo ridículo!

Na Polónia: A televisão, os filmes são dobrados para a língua local (até aqui tudo normal), mas....por uma única voz...:) então temos programas dobrados em polaco em que existe uma única voz a traduzir todas as vozes (femininas e masculinas), simplesmente hilariantes:).

Na Espanha: existe um conceito mundialmente famoso da ‘Siesta’ (até aqui tudo quase normal), mas o conceito de ‘Jornadas intensivas’ é realmente uma novidade, onde os espanhóis trabalham das 8 da matina até às 3 da tarde sem intervalo para almoço, indo para casa de seguida(bela vida, gostava de ser espanhol no Verão) :)

Na Suécia: é-se considerado um alcoólico se beber um copo de vinho á hora de almoço, e ninguém bebe vinho a não ser de noite. No entanto, se beberes meia garrafa de vodka antes de sair à noite e umas cervejas e vomitares no fim da noite (como os suecos fazem), já não és considerado bêbedo com problemas de álcool:).

Na Holanda: és considerado estranho e diferente se comeres uma sandes de queijo e um copo de leite ao pequeno-almoço, mas és considerado completamente normal se comeres uma sandes de morangos e manteiga e beberes um iogurte liquido....ao almoço:)

Na Rússia: Se às 6 da tarde convidares alguém para tomar um café, ficam a olhar para ti com um ar de E.T. e levam-te ao bar mais próximo para beber uns shot’s de vodka no horário pós-laboral.

Na china: Se achas que o conceito de comida fresca é um mercado do peixe perto do mar, ficarás surpreendido se num restaurante vires uma galinha dentro de uma jaula entrar pelo restaurante a dentro em direcção á cozinha e 15 minutos depois veres um 'chop soi' de galinha na mesa do lado.

Na republica checa: Se pensas que o serviço de atendimento em Portugal é mau, ficarias surpreendido se em Praga pedisses uma pizza de tomate à empregada (para além da pizza vir com ketchup) a empregada ainda te respondia que só tem duas mãos, que tem mais que fazer e tudo com um ar de poucos amigos. No final ainda fica surpreendida e toda chateada porque não lhe deste gorjeta.

Inglaterra: Um país que tem nos supermercados uma enorme quantidade de produtos light e ‘healthy’ por metro quadrado, mais do que qualquer outro país do mundo, e depois o prato nacional é peixe com batatas fritas e maionese.

Finlândia: Um pais dito de primeiro mundo, onde a economia e tecnologia são considerados de ponta e....onde os homens se batalham com as mulheres para sair da porta do metro ou do elevador, empurrando-as se for necessário.

Bélgica: Um país com longa tradição de chocolate, mas se perguntares a um local o que é típico belga, dizem-te num piscar de olhos que é um pacote de batata frita gigante com 2 tipos de maionese por cima.

Roménia: Se acham que a moda dos fatos de banho em Portugal é high class, deviam de ver o típico romeno a passear por uma típica praia na Roménia e usar o fato de banho até ao umbigo....muito sensual devo dizer:)

Bulgária: O Verão no Algarve é realmente muito turístico, mas deviam de ver a costa marítima da Bulgária com cidades nada turísticas com o nome de ‘golden sands’e ‘sunny beach’, nomes totalmente búlgaros (tento em conta que a Bulgária tem uma língua e alfabeto parecido ao russo-cyrill).



Noruega: Se acham que o Alentejo é um lugar pacato e sossegado, deviam de passar uma tarde de inverno em Oslo, onde ás 3 da tarde é de noite é as 6 da tarde está tudo fechado.
Letónia: Se consideras normal usar t-shirt e fato banho na praia, ficarias surpreendido então de ver tantos casacos por metro quadrado numa praia do mar Báltico:)

Eslováquia: Se beber vinho do porto em Portugal é um bom digestivo, então ficarias surpreendido se na Eslováquia te dessem um copo de fernet (vodka local com sabor a limão) depois de jantar para ajudar á digestão.

Na Lituania: é considerado estranho comer dois refeicoes quentes durante o dia(de prato e talheres, normalmente só comem uma sandes) como nós portugueses fazemos alegando que nao é muito digesto e saudavel, mas é absolutamente normal comer salsichas ao pequeno almoco com pickles. (Isto tambem é valido por muitos paieses de leste nos quais andámos perdidos).

E se entretanto se lembrarem de alguma experiencia,podem partilham aqui mesmo, num blog perto de si...:)

'Peregrino do leste - o blog - mais perto do que é importante'

quinta-feira, agosto 10, 2006

Viagens atribuladas

Quem não se lembra de fazer aquela viagem de comboio, pouco confortável, ou mesmo sem dormir, se pensarem bem, qual foi a vossa pior viagem?

Vem-me à cabeça vários episódios, uma viagem de Split (Croácia) a Cracóvia (Polónia) que demorou umas 30 horas, num desses Verões onde havia um concerto em Budapeste e todos os italianos se lembraram de invadir Budapeste e consequentemente os comboios também....e claro o nosso não foi excepção. Saímos ás 4 da tarde de Split, paragem ás tantas da manha em Zagreb, onde ficamos na estação (como tantas outras vezes) á espera do primeiro comboio para Budapeste (1 dia). Foram horas de desespero nesse comboio, apinhado de gente até ao tecto, era impossível andar nos corredores, como ainda não havia união europeia, em todas as fronteiras demoramos uma eternidade até que finalmente ás 11 da noite chegámos a Budapeste. (dia 2)Depois passamos a noite no comboio de Budapeste para Cracóvia. E assim chegamos a Cracóvia onde tivemos uma recepção que dava outra história ainda maior que esta.

Outra viagem que me lembro que foi particularmente má, foi uma viagem aquando dos meus estudos em Macau, na qual dei um 'pulo' ao Laos. Foi provavelmente das viagens mais longas da minha vida. Demorou nem mais nem menos 36 horas de autocarro com uma paragem de 1 hora de intervalo para mudar de autocarro e comer, e segundo os locais ainda fomos sortudos, que não tenha demorado mais tempo. Por isso quase me senti com 'sorte' de ter 'só' demorado 36 horas.

Tudo começa num hostel em Hanoi (capital do vietnam) onde tentámos negociar o preço do autocarro e ainda conseguimos ser enganados por 3 dólares:). Depois começou a saga de 25 horas até viantiem (capital do Laos, parece Vietname mas não tem nada a ver é pura coincidência de nomes). A viagem em si, foi difícil 25 horas num autocarro, onde as minhas pernas não cabiam no banco do autocarro local, porque o vietnamita médio tem 1.5 metros e pesa 60kg.....por isso foi complicado:).

Entretanto em viantiem apanhei um autocarro para Luang Prabang(uma cidade um pouquinho mais a norte do laos) de mais 11 horas durante a noite onde iríamos passar uma zona controlada por um grupo de guerrilha contra o governo no Laos. Dai que iam uns rapazitos simpáticos com ar amistosos em que traziam uma metralhadora cada um em punho. Por isso quando vi esse cenário não fiquei lá muito seguro de que estávamos num lugar simples, mas os locais sempre diziam quando eu apontava para as armas 'no problem, very safe very safe', obviamente não me tranquilizou muito, mas lá fomos.

Estas últimas 11 horas foram mais difíceis ainda que as primeiras 25 horas, porque o autocarro ia cheio e tal como no outro autocarro tinha que ir com as pernas atravessadas no corredor quase a bater no banco do vizinho do lado. Mas o mais bizarro nem sequer foi o pessoal da metralhadora, foi que tínhamos um motor no corredor do autocarro, mas 8 horas depois percebi porque que tínhamos um motor atravessado no corredor... aparentemente havia um autocarro empenado no caminho. Mas o mais caricato é que esse autocarro teve que ficar empenado (obviamente), teve que esperar que um autocarro passa-se por aquelas bandas para lhe entregar o motor....para levar á cidade, para arranjar e depois voltar....pois não me perguntem quando tempo o autocarro ficou ali parado, mas deixa-me vos dizer que por aquelas paragens não passam lá muitos autocarros. Assim que chegamos ao destino final, eu já não sentia nada e já sonhava com uma ida ao Ikea e passar o dia todo sentado em sofás e a pular em almofadas de tão confortável que foi a viagem:).

No entanto a viagem de volta do Laos para Portugal também nao foi mais simples e dava outra história cumprida, onde basicamente parti o pé algures na mountanha no Laos e em que demorei 8 dias das mountanhas do Laos até ao Hospital Sao Francisco Xavier em Lisboa:).

De qualquer das formas de muitas viagens que fiz, inclusive com o Filipe, penso que estas ultimas férias tivemos também episódios bastante engraçadas que vale a pena recordar, como uma viagens de comboio de Brasov a Constanca na Roménia onde íamos num compartimento sozinhos, num comboio apinhado de gente....razão principal apontada: cabine perto da casa de banho, o resto penso que podem adivinhar. Eu como estava constipado, o lugar não me afectou e o Filipe como é um homem de barba rija passou-lhe ao lado:).

No entanto o trajecto mais caricato da viagem neste Verão, foi a ida e a vinda para Istambul.
A ida para Istambul, começou algures na Bulgária numa terra chamada Burgas. Compramos os bilhetes para o autocarro das 23:00. Às 2 da manhã o autocarro não tinha vindo, até aqui tudo quase normal....quando o autocarro chegou entramos no autocarro meio ensonados e percebemos que não havia lugar para sentar...até aqui nada nos parecia normal... por isso para remediar a situação deram-nos uns banquinhos de plásticos e lá fomos nós 8 horas até Istambul no corredor do autocarro onde inseriram um novo conceito na industria rodoviária de 'overbooking':) (estes Turcos estão sempre a inovar).

Importante referir que tudo isto sem que ninguém da empresa rodoviária soubesse falar inglês. Engraçado também que a policia de ambos os países da fronteira ao verificar os passaportes passava literalmente por cima das pessoas deitadas ou sentadas no corredor, sem nada comentar e apenas sorrindo.

Bom tal como a ida a vinda não podia ser diferente. Claro que mudámos de empresa de autocarros e viemos num autocarro tipo nave espacial, todo novo e moderno, mas claro...tivemos uns contra tempos na entrada na Bulgária.

Uma vez que a Bulgária irá entrar na União europeia no próximo ano, o controlo na fronteira é bastante mais apartado, dai que ficamos, nada mais nada menos que 5 horas na fronteira. E claro uma vez mais o meu passaporte tinha que fazer das suas, dai que todos os passaporte foram postos no mesmo molho (incluindo o dos Turcos...atenção) e o meu e o do Filipe foram postos aparte e posteriormente o meu ficou sozinho...após o policia quase me ter destruído o passaporte com tanto mexe e remexe. Lá me perguntou se tinha outra identificação porque havia qualquer coisa de errado (que ele próprio não sabia o que era) e o pior de tudo é que o passaporte do Filipe era realmente diferente do meu.

Na capa do passaporte inicial os novos passaporte as letras estão escritas em dourado e nos antigos (como o passaporte do Filipe) estavam escritos em prateado....por isso apelo ás autoridades portuguêsas, para por favor façam passaportes piores e mais fáceis de copiar e pode ser que tenhamos casos de mais portugueses presos ou quase presos por suspeitas de passaporte roubados ou falsos. Nestas pequenas coisas mostramos ao mundo a nação que somos e o rigor com o detalhe que temos, ainda mais em algo tão pouco importante como o passaporte.


Mas enfim após esta aventura chegamos são e salvos ao nosso destino:).

Já se lembraram entretanto, de alguma aventura nos transportes realmente má?:)