quarta-feira, agosto 13, 2008

Volta a Munique em Bicicleta

Houve um dia em que este senhor, ciclista experiente, não foi de bicicleta para o trabalho.

Deixou-a ao amigo.

E que dia memorável! Numa cidade praticamente plana, a bicicleta é o transporte dominante. As condições são excelentes, circuitos marcados, faixas dedicadas, automobilistas que respeitam os sem motor, o sonho para quem gosta de pedalar.

Nos primeiros dias já tinha visitado a pé todo o centro. Recordo a avenida entre Karlplatz e Marienplatz cheia de “window shoppers” e papa gelados.

Parti cedo e directo ao English Garden, o maior jardim da cidade que tem multi funções:

- Praia

- Zona de desportos

- Restauração

- Passeio e namoro, seja com animais domésticos ou amantes.

Experiências anteriores em bicicletas com travões nos pedais foram claramente insuficientes. Ao mínimo obstáculo que exija travagem brusca lá estão as mãos a apertarem os travões que não existem. Demora algum tempo e algumas reclamações de outros ciclistas até que me habitue a travar com os pedais.

A ausência de praia obriga os locais a recorrer aos espaços verdes para aproveitar o verão, enquanto pedalo surpreendo-me!

“Aquele senhor está mesmo a pedalar nu?!”

Já sabia que havia zonas de nudismo, mas mesmo assim choca sempre. (Recomendo o vídeoclip dos Queen – Bicicle Race)

Farto da calma das sombras dos espaços verdes dirijo-me para o centro. Já tenho fome e com a ajuda do guia procuro o maior mercado de rua da cidade Viktualienmarkt. Muita fruta, mel, licores e demais mercearias. Opto por um saco de cerejas e uma sandes de salmão grelhado com salada. Estaciono a bicicleta e passeio novamente pelo centro, passando pelas orlas de turistas das ruas principais e pelos restaurantes gourmet cheio de gente de negócios na hora de almoço.

Nova paragem nas sombras dos jardins geométricos da Residentz, antiga residência dos monarcas da Bavária.

À semelhança do que acontece no Octoberfest, a cidade está repleta de “bierre gardens”. Jardins de cerveja que fazem lembrar a antiga festa de cerveja no castelo de S. Jorge em Lisboa. Bancos de madeira no exterior do restaurante ou num pátio interno onde se comem salsichas e pretzels salgados, regados com litros e litros de cerveja servida em impressionantes canecas de litro por mulheres e homens com trajes típicos.

Volto à bicicleta. Perco-me várias vezes e percebo que em bicicleta vale tudo. Os sinais de sentido proibido ou obrigatório virar à direita são apenas para os carros. Imito os locais e vou na direcção que quero, mas perco-me novamente.

Complicado ver o mapa frequentemente enquanto se para perto dum cruzamento. Estou rodeado de umas dezenas de bicicletas. Tiro a máquina da mochila e tento tirar uma foto. Zás! Sinal verde! Arrumo tudo à pressa e os ciclistas atrás de mim a apitar e a chamarem-me nomes. Que bom não entender o alemão…

Então vagueio, cansado, já a pensar voltar a casa, nova surpresa do destino.

Parado entre cruzamento de 2 avenidas importantes a consultar o mapa, uma rapariga alemã sai esbaforida do edifício ao lado e grita algo em alemão. No meu melhor inglês/alemão digo: “no speak doitch”. Lá muda para inglês e explica-me que está atrasada para um teste e que quer boleia para uma rua perto dali.

Estamos a falar de uma menina com 1,80m de altura e mais de 70Kg. Digo-lhe que tenho pouca confiança com a bicicleta para puder conduzir com pendura. Responde rapidamente: “Levo-te eu a ti”.

Ok.

Passa-me umas sapatilhas que tinha na mão, vou para trás da bicicleta e lá arranca ela. Vamos à máxima velocidade permitida pelo nosso peso junto, em sentido contrário, por passeios, passadeiras para peões e por entre carros. Parados num semáforo pergunto, porque não me parece nada o estereótipo “frio” alemão:

“És mesmo alemã?”

Ao que responde: “A minha mãe é, o meu pai é mexicano e o meu namorado é brasileiro. Eu falo português!”

Pronto! Tudo explicado! Viver demasiado tempo no Brasil e já conduz como um paulista.

UPPS! Rua cortada devido a obras: “Ok! Fico por aqui! Obrigada!”

Sai da bicicleta e a meio da rua volta para trás para lhe dar as sapatilhas.

“Boa sorte para o teste!” – Grito eu.

E voltei para casa.

5 comentários:

Anónimo disse...

Olá, peregrino do Leste.

Tudo bem contigo?
Alguém que te é muito querido, contou-me das tuas andanças e mencionou este teu blog. Quando cheguei a casa resolvi ir bisbilhotá-lo. Depois de ter passeado ao sabor das tuas palavras e das tuas vivênias, decidi que não era justo não te deixar umas palavrinhas. Não é correcto andar à boleia sem nenhuma contrapartida, lol.
Já não te deves lembrar de mim. Já lá vão uns anitos. Naquela época ainda não se tinha soltado a tua alma de condor. Se as minhas asas não começassema acusar o peso do aninhos também eu gostava de viver a

"Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E da ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa

Portugal, ainda continua a ser muito pequenino para os sonhadores e para os visionários, não é??!!!

Por esta altura deves estar a perguntar-te de quem são estas palavras. Já te deixei unas pistas bem explícitas para despertar o teu instinto de Sherloc Holmes, lol.
Vou deixar-te outra e desta feita só posso dizer duas palavras: mulheres e tranparências. Acho que hoje em dia deves entender bem o significado das minhas palavras.

Como não tenho um blog (a minha vida é demasiado entendiante para sr partilhada na blogosfera, lol), deixo-te o meu mail ( que, como convém, não me denuncia, lol): ladymarion08@gmail.com

Fica bem.
Continua a ser "outro contantemente"

Beijinhos (bem)alfacinhas, lol

Anónimo disse...

que aventura! :)
beijokas

Filipe Roque disse...

Obrigado Lady Marion por tão poético comentário! O sherlock holmes em mim deve estar de férias porque continuo sem saber quem sejas. Vou enviar email e tentar descobrir mais.

Beijos,

Filipe Roque disse...

Hei Filipa! Foi mesmo! Beijokas

Anónimo disse...

Olá Filipe, acho que é só pensares um pouco.., quem será a secreta Lady Marion, com tanta classe, poesia,com Fernando Pessoa a deslizar no teclado,com tanto saber,..vou levantar umpouco do véu," talvez alguém que num passado recente te tenha ensinado a escrever tão bem,a formar parte da pessoa que és!" Vê se descobres. Jocas da Mamy.