Vela nas Ilhas Ciclades
Qual a origem da expressão:
“Vimos-nos gregos para cá chegar” ?!?
Se alguém souber ajude-me, apesar de já ter uma ideia. Sinceramente não foram tudo rosas na última viagem à Grécia. Arriscando ir no fim do verão e com pessoas com diferentes expectativas do que seria uma semana a navegar à vela num barco, correu tudo menos como planeado.
Se algo tem de correr mal, na Grécia acontecerá de certeza. Multa no metro de Atenas, mala perdida no aeroporto, chuva 3 dias com barco parado, com tanta dificuldade, que guardo então da experiência de navegar com amigos por ilhas áridas e semi desertas?
Antes de responder vejamos alguns números da Grécia, um país com muitos múltiplos de 10 na sua estatística:
• 10 milhões de habitantes à semelhança de Portugal.
• Apenas 10% da população vive nas mais de 1000 milhas.
• 1 ano de vida militar obrigatório.
• 10 milhões de História para contar.
Numa feira de barcos, o amigo André arranjou o contacto de uma empresa que aluga barcos para fazer cruzeiros à vela pelas ilhas gregas. Como ninguém da equipa sabe velejar temos de alugar barco com capitão incluido, o skiper.
O arquipélago central das ilhas Ciclades, o objectivo:
Em cima o mapa das ilhas visitas e o percurso que fizemos, bastante diferente do plano inicial.
As cyclades derivam da palavra grega para círculo, KYKLOS e são isso mesmo. Um circulo de ilhas áridas, secas, com casas brancas com telhados azuis empoleiradas em penhascos, com praias de todos os géneros e gostos. Vistas Maravilhosas!
No centro do círculo a miniscula e desabitada ilha de Delos que já foi a capital de uma civilização e tem das mais importantes e maiores ruinas do país.
Os habituais ventos para Sul, criam as condições ideiais para navegar à vela desde Atenas a Norte até Santorini ou ainda Creta mais a Sul. As empresas de ferries que ligam as diversam ilhas são inúmeras e aluguer de barcos à vela e iates é o que não falta.
O problema é quando o vento não sopra, e, em vez disso, cai uma chuva forte, um dilúvio fora de época e fora do normal no exacto dia em que chegamos a Atenas.
Ninguém pode sair do Porto. Demasiado longe do centro de Atenas para uma visita à chuva da capital, acabámos por ficar no barco e aguardar que o tempo melhore. No dia seguinte a chuva pára, e lá parte o barco contra o vento, com o mar demasiado agitado. Demasiado para os aspirantes a marinheiros.
O barco partiu no entanto sem mim, que optei por uma não menos dificil aventura de recuperar a minha mala que tinha ficado na escala que fizemos em Milão. Só as peripécias nos autocarros do interior e nos serviços de bagagem do aeroporto davam para um livro, mas digamos que deu para ficar mais “dentro” da cultura grega e verificar que os gregos são muito parecidos com os portugueses em tantas coisas...
Quando cheguei de ferry à primeira ilha, KEA, já tarde, encontrei uma tripulação desanimada, enjoada, arrasada com o primeiro percurso de mar bravo que venceu o estômago de todos.
A foto da tripulação:
Da esquerda para a direita:
Pavlo, André, Pedro, Katarina, Filipe e Madzia.
Uma outra com o capitão Steve concentrado na condução do barco:
A sensação de velejar é dificil de expor em palavras. O azul do mediterrâneo, os sons do barco no porto que embala enquanto se dorme. Os instrumentos de bordo, o piloto automático com GPS, as velas, os cheiros.
Javier Reverte, no seu livro “Corazón de Ulises”, sobre uma viagem que fez de barco na Grécia, escreveu o seguinte que traduzi:
“...Grécia é azul e branca, como as cores da sua bandeira. Alegra a alma com a sua potente luminosidade, o milagre da imensidão do seu céu, que se torna em escuridão tenebrosa durante as noites sem lua.
Aquela primeira parte da viagem, já em pleno mar e rumando a Nauplia, sentado na varanda do barco, sem luz nenhuma e com aquele enorme espaço à minha frente, com a sensação de transitar no nada, o tempo não existe! Nunca existe na verdade quando o mar nos engole na noite negra. Mas mesmo assim há calma e o navio desliza com suavidade sobre as águas.
Morrer, sonhar? Perguntar-se-ia Hamlet.
Quem sabe nascer, porque viajar supõe uma forma de nascimento, mesmo que caminhando através do vazio e ausente de tempo...”
Não se navegou durante a noite. A “rotina” diária de umas férias destas é:
- Acordar 7 da matina.
- Reunião para falar da direcção, da previsão das condições meteriológicas, o vento, a direcção, a nova ilha para onde se vai.
- Preparar barco para partir (cordas, âncora, arrumar toda a loiça nos compartimentos para não cairem). Partida
- Come-se pouco, algo seco, para não enjoar.
- Abre-se vela, ou vai a motor. Lêem-se livros, dorme-se, apanha-se sol, ouve-se musica, conversa-se. São sempre 4 a 6 horas de distância.
- Chega-se entre as 14, 15h à nova ilha. Procura-se lugar na marina para atracar.
- Colocam-se boias protectoras, baixa-se âncora ajuda-se na manobra.
- Almoça-se.
- Visita-se a ilha. Faz-se praia. Nada-se, mergulha-se.
- Banhos, procurar lugar para jantar. Bebe-se,
- Dorme-se ou sai-se à noite.
Claro que o programa seria diferente se o barco fosse alugado sem capitão.
E novo dia, nova ilha.
O ambiente nas marinhas com tanto barco alugado acaba por ser semelhante ao de um parque de caravanas no campismo. As toalhas de praia e biquinis a secarem penduradas nos barcos. O convivio fácil com as tripulações de outros barcos.
Há convites para beber noutras embarcações, há festas e dança-se ao som dos Abba.
Como o café expresso é a 2,5€, a opção recai para os Frappé gelados muito bons.
Chegada a Citno, ilha pouco concorrida, umas 2 centenas de habitantes. A época alta já vai longe. Damos um passeio pela ilha praticamente deserta. Mergulhamos nas águas quentes duma nascente ferrosa que desagua neste “jacuzi” improvisado.
Uma calma e um silêncio em toda a ilha. Paz. Não só em terra, no mar a paz também se instala quase todos os dias. É o desespero para quem vinha com grandes expectativas de velejar com vela, sem vento, só mesmo o motor é que nos desloca.
Mais um dia, o sol brilha pela primeira vez e foi assim o resto da semana. Queremos praia e é o fazemos ao chegar a Serifo depois de um belo almoço.
Quando o calor acalma apanhamos o autocarro para o centro da capital da ilha. Por estradas sinuosas num autocarro mais que velho, serpentiamos colina acima. Avisam-nos que daí a uma hora há outro autocarro.
À excepção de alguns turistas a cidade encontra-se totalmente vazia. Branco e azul, as ruelas num sobe e desce labirentesco. Avista-se todo o azul do mar em redor. Uma ilha ao longe rompe a monotonia azul e lá em baixo ao longe na marina, os barcos continuam a chegar ao porto.
O prémio para a foto mais "Mamma Mia" que tirámos foi:
Na ilha seguinte, Paros, já se sente o movimento e o ritmo de uma grande ilha. Já na rota principal dos ferries, Paros é uma cidade totalmente virada para o turismo. Bares, comércio, restaurantes, fazem as delicias dos turistas e depois de varios dias de pequenas ilhas praticamente desertas soube bem voltar a ver animação e muita turistada até bastante tarde.
Se Paros será Albufeira, IOS a ilha seguinte é como Lagos. Num ambiente mais alternativo, os turistas jovens trabalham nos bares e discotecas da cidade e nos quiosques de praia.
A "ilha festa", mesmo em fins de Setembro ainda tem uma noite animada com dezenas de opções, pequenos bares dançantes, para todos os gostos.
A melhor praia de verdadeira areia branca foi em IOS, apesar das nuvens do fim de tarde. A superba praia de Mylopótas.
E é isto as ciclades. Quando partimos para Santorini estamos já cansados da vida de marinheiro e ansiamos trocar a cama pequena e balonçante do veleiro, por um colchão grande, duro e firme em terra firme.
Como a canção portuguesa dos loucos anos 90:
“Essa vida de marinheiro, está a dar cabo de mim, roporoporoporoporoporopori.”
2 comentários:
Tou a tentar fazer parte de uma tripulação para umas ferias este verão. Será que me pode ajudar.
O site da west coast sailing pede inscrição para puder contactar com os donos dos barcos e só se fica socio na melhor das hipoteses 1 seis meses por 60 libras.
Obrigada Matilde
Olá Matilde, obrigado por ler este blog. Foi um amigo meu que tratou de toda a logistica. Sei que numa feira de barcos, tipo NAUTICAMPO, em Roterdão, ele conheceu o capitão do barco em que fomos. Não conheço outras formas de o fazer. O site da empresa em que fomos http://www.sailgreece.ca/ Tambem já ando a planear as proximas ferias. Boas experiencias!
Enviar um comentário