sexta-feira, abril 20, 2007

Uma casa peculiar

A partir dos meus 19 anos, por opção, comecei a viver fora de casa dos meus pais. Desde então já vivi em perto de uma dezena de casas diferentes, sozinho ou acompanhado, com amizades ou namoros e em países diferentes. No entanto nenhuma me marcou tanto como a minha casa durante os meus estudos em Cracóvia, Polónia.

Foi na Ulica Lubicz nº34. A 5 minutos a pé da universidade e a 10 do centro da cidade foi de fácil escolha. A equipa com que a partilhei:

Nicolas! O mais novo, mas o maior da casa. Jovem francês a estudar para gestor, mas com aspirações a escritor e poeta. Tímido e introvertido, com um carácter muito peculiar e gostos algo “raros” para a sua idade, é assim que me lembro dele, no seu quarto sentado a ler literatura francesa. Era o líder da casa no que toca a limpezas e a distribuir tarefas. Um verdadeiro Napoleão em ascensão!
Andreas! Que personagem! É um exemplo de como uma primeira má impressão pode ser esquecida e tornar-se numa grande amizade. Muito longe dos estereótipos italianos, o Andreas é um excêntrico! Oriundo de Veneza, cedo foi apanhado pelo vírus “polaco” e hoje trabalha e vive em Kraków. Um óptimo cozinheiro! O verdadeiro party animal! Um coração de ouro! Uma óptima pessoa!

António! Calmo e ponderado, este italiano do sul da bota é uma pessoa de carácter e valores muito fortes. Não é pessoa que se abra facilmente com os outros, por isso nunca tivemos uma relação muito próxima.

Eu! Sendo o mais velho e falando mais polaco que os restantes, auto elegi-me o contacto directo com o senhorio. Um médico polaco que mudou de consultório e transformou o antigo numa casa para alugar a estudantes.

A nossa casa era qualquer coisa espectacular! Um corredor enorme a ocupar maior parte da casa e várias divisões pequenas a servirem de quartos, WC, cozinha, sala de secagem, etc.

Poucos têm a possibilidade de dizer que viveram num museu. Dentro de casa, tínhamos uma porta à qual nunca tivemos acesso que foi um museu. E ainda tendo como vizinhos um escritório notário.

A experiência de viver com pessoas de origens diferentes é tumultuosa, confusa, divertida, enriquecedora, resumindo, fantástica!

Uma foto tirada em Agosto e a outra tirada em Dezembro da janela do meu quarto. Nunca conheci o dono da vespa e nunca vi ninguém a subir estas escadas…

Momentos marcantes foram muitos, altos e baixos, conto aqui alguns deles.

Apesar de um Inverno “quente” (temperaturas não desceram abaixo dos 12ºC negativos), 48 horas passaram para que viessem consertar a água quente, aquecimento da casa e luz eléctrica. Aquele longo corredor com luz de velas é inesquecível… A zanga com o senhorio, as queixas à agência imobiliária…

Como a água canalizada na Polónia em geral não é aconselhável para beber, e como nós não bebíamos chá a todas as horas como os polacos, era normal termos montes de garrafões de água mineral vazios pela casa. Ao chegar o Natal, o Andreas, artista, decidiu fazer uma árvore de Natal com os garrafões. Em baixo uma foto da elaboração da árvore e outra da obra já finalizada. Original! Reparem nos pacotinhos de chá a decorarem! Priceless!


Foi um Natal diferente, mas pelo menos incluiu bacalhau que os meus pais me enviaram por correu. Mas também incluiu uma Lasagna caseira, realmente italiana. Sim, esqueçam as que se compram congeladas, nada a ver! Estava óptima Andreas! E ainda uma Tart Flambé, feita pelo Nicolas com ajuda telefónica da sua avó. Bom, não estava uma especialidade, mas a elaboração valeu valentes risadas! Quanto ao bacalhau cozido, todos fizeram caretas quando viram e cheiraram as postas, mas no final todos gostaram.

Ainda tivemos a visita inesperada de crianças a cantarem-nos músicas de Natal em troca de doces. E um passeio nocturno até à catedral no castelo Wawel para a missa do galo. Realmente com neve o Natal tem outro “sabor”…

Houve um jantar que recordo por ser o último que fizemos antes da festa de despedida. A troco de emprestarmos a nossa máquina de lavar à Zsuzsa, tivemos direito a um Gulash húngaro de chorar por mais. A foto que registou o momento:


A festa de despedida foi algo “Bombástico”! Cada quarto foi decorado de forma diferente. Um todo azul, outro vermelho e outro amarelo. Música diferente em cada um deles. Cerca de 100 pessoas, convidados ou não, muita votka, muita cerveja, foi assim:

Este foi o folheto/convite da festa enviado aos convidados...
Foi assim...

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